A safrinha 2021 está aí e, como qualquer outra cultura, o milho é extremamente dependente do regime de chuvas e outras condições do clima.
Para saber o que podemos esperar em relação a isso este ano, convidamos o professor Paulo Sentelhas, que explica como estão os fenômenos climáticos e as previsões para 2021.
Sentelhas é engenheiro agrônomo Mestre, Doutor e pós-doutor em Agronomia agrometeorologia com grande experiência no assunto atualmente é professor em agrometeorologia junto a Esalq/USP.
Safrinha 2021 e a influência da La Niña
O que é La Niña?
A La Niña é um fenômeno Oceânico atmosférico associado ao resfriamento além do normal do pacífico Equatorial, o qual altera a circulação da atmosfera e, assim, afeta os regimes de temperatura e chuva em diversas regiões do planeta.
A origem desse resfriamento, assim como do aquecimento nos anos de El Niño, ainda não é completamente compreendida pelos cientistas, pelos meteorologistas e oceanógrafos. Isso faz com que haja sempre uma incerteza em relação à configuração desses fenômenos.
De qualquer forma, para que a La Niña se estabeleça a anomalia da temperatura da superfície do Oceano Pacífico Equatorial deve ser menor do que -0,5°C. Ou seja, a anomalia é a diferença entre a condição atual e a condição média de vários anos.
Já para o El Niño, essa anomalia tem que ser maior que +0,5°C, enquanto entre esses dois intervalos nós temos a condição de normalidade.
Tendo essa anomalia da temperatura da superfície do mar menor ou igual a –0,5°C a gente tem uma condição propícia para La Niña, a qual só vai se estabelecer efetivamente (do ponto de vista climatológico) se essas condições persistirem até cinco trimestres móveis consecutivos.
Impacto da La Niña para o Brasil em 2021
Apesar de existir alguns padrões de variação do clima em algumas regiões, como por exemplo menos chuva e temperaturas mais amenas no sul do Brasil e chuvas acima do normal na região centro-norte do país, nem sempre esses padrões ocorrem em anos de La Niña devido a ação de outros fenômenos que também vão estar ocorrendo a nível global.
Exemplos desses fenômenos, são a oscilação decadal do Pacífico e a oscilação multidecadal do Atlântico, além de outros fenômenos que sempre estão associados a temperatura da superfície do mar e como isso afeta a circulação da atmosfera como um todo.
De uma forma geral, esses fenômenos alteram o impacto da La Niña especialmente no Brasil, fazendo com que haja uma certa variação nessas consequências para ocorrência, principalmente, de chuva.
Desde o segundo semestre 2020 o Pacífico Equatorial vem sofrendo com anomalias negativas, sendo que até o momento nós já temos quatro trimestres móveis consecutivos na condição de La Niña.
Ao final do mês de janeiro nós devemos ter a confirmação do ponto de vista climatológico da La Niña, já que devemos ter mais um trimestre com as temperaturas abaixo daquele linear (-0,5°C).
No entanto, as consequências desse fenômeno já vêm ocorrendo ao longo de todo o segundo semestre de 2020 como foi possível observar pelas chuvas abaixo do normal, o atraso das chuvas durante na região Centro-Oeste e Sudeste, além da região Sul, onde a cultura do milho foi bastante afetada.
Tudo isso confirma o que vem pela frente: condições de La Niña e, consequentemente, impactos nas condições meteorológicas daqui para frente desde que essas condições persistam por mais tempo.
Considerando a La Niña, como vão ser as condições climáticas no Brasil para a safrinha 2021?
A persistência dessa La Niña, previsto pelo centro de meteorologia, deve durar aproximadamente até Abril e Maio.
Com isso, os prognósticos estão indicando o enfraquecimento gradativo da La Niña e a partir daí uma passagem para uma condição de neutralidade.
Então, sempre que estamos em uma condição de La Niña, a expectativa é que tenhamos chuvas abaixo do normal, principalmente na região Sul do país, e que as chuvas sejam melhores na região Centro-Norte e Norte do Brasil.
De qualquer forma, os prognósticos climáticos que estão disponíveis de diversas fontes não indicam condições de alteração brusca das chuvas e das temperaturas para o próximo trimestre (Fevereiro, Março e Abril).
Algumas regiões poderão ter chuvas ligeiramente abaixo do normal. Isso está sendo previsto especificamente para região Sul e parte do MATOPIBA, o que é um pouco diferente do que seria um “padrão de La Ninã”, em que ocorreriam chuvas acima do normal também nesse período da safrinha.
Óbvio que se essas chuvas forem abaixo da normalidade, principalmente ao longo da safrinha, isso pode afetar as culturas principalmente do milho no estado do Paraná e também no MATOPIBA.
Nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e parte do Nordeste, as condições que estão prognosticados para chuva e temperatura são de normalidade, sem maiores problemas para a safrinha 2021.
É claro que tudo isso carece de confirmação ao longo do tempo, e por isso que as previsões climáticas têm que ser consultadas mensalmente.
No geral, o que vemos é que, principalmente na região Centro-Oeste, tanto o milho safrinha como o algodão safrinha vão ter condições bastante satisfatórias e, portanto, sem grandes alterações.
Apesar da La Niña ainda persistir até Abril/Maio, o que estamos vendo é uma temperatura do Atlântico Sul muito acima do normal.
Sempre, ou quase sempre, que isso ocorre temos uma alteração desse padrão de La Niña. Então veja que não estamos indicando chuvas muito abaixo do normal, mas chuvas ligeiramente abaixo do normal.
Isso se deve em grande parte por causa desse aquecimento do Atlântico Sul e vem contribuindo para que não tenhamos um padrão como foi no segundo semestre do ano passado, com ausência de chuvas ou chuvas muito baixas.
De uma forma geral, esse é o prognóstico, mas, obviamente, precisamos estar sempre acompanhando essas previsões climáticas e a partir daí tomar nossas melhores decisões, fazendo as estimativas de safra em termos do que vamos enfrentar com as condições meteorológicas.
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