Como será o comportamento do mercado de grãos em 2021? T.2 Ep.6

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Estar atento ao mercado de grãos é essencial para se manter na atividade de produção de milho e soja. 

Neste último ano, com a pandemia e alguns movimentos de mercado, os preços estão em alta. Mas como será que esse mercado vai se comportar ao decorrer de 2021? 

Para falar sobre o assunto, temos a honra da participação do Fernando Pereira neste episódio. Fernando Pereira é ex-presidente e membro do conselho de administração da Agroceres com grande experiência no agronegócio sobretudo no mercado de grãos e carnes. 

Como chegamos nesses patamares recordes de preços de grãos? 

Para entendermos os fundamentos que explicam os altos preços atuais de grãos, temos que retroceder ao ano 2018. 

No início de 2018 estava em curso a chamada guerra comercial Estados Unidos e China. Os EUA decidiram impor barreiras tarifárias à uma série de produtos chineses, enquanto a China, em represália, fez o mesmo com os Estados Unidos e impôs barreiras tarifárias à uma lista enorme de produtos, inclusive produtos do agronegócio norte-americano. 

O Brasil se beneficiou desse processo aumentando suas exportações para a China.  

Além disso, no mesmo ano em agosto, a China começou a notificar casos de peste suína africana no seu rebanho. Vale lembrar que a China produzia e consumia naquele momento cerca de metade de toda a carne suína produzida no mundo.  

A peste suína africana se disseminou pelo país ao ponto de se estimar que foi dizimado cerca de 35% do plantel suíno chinês. 

Com isso, a China teve que ir ao mercado mundial para se abastecer. Como não havia carne suína suficiente para repor tamanho volume, ela se abasteceu de outras carnes também. 

 O Brasil novamente se beneficiou desse fenômeno, aumentando suas exportações de carne suína. Assim, para exportar mais, teve que produzir mais e para produzir mais, utilizar mais grãos, consequentemente dando sustentação ao preço de grãos.  

Passado 2018 vamos saltar para 2020, quando tivemos o trágico episódio da pandemia com fortes impactos nas economias de quase todos os países do mundo. 

Um desses impactos aqui no Brasil foi uma forte desvalorização do real, o que conferiu maior competitividade do Brasil e para seus produtos exportáveis, os quais são principalmente do agronegócio, notadamente grãos e carnes. 

Em 2020 também teve um outro fenômeno nos Estados Unidos, onde problemas climáticos impactaram em algum grau a produção de milho e soja, reduzindo assim a oferta mundial.  

Para sintetizar, devemos entender que se tratam de fundamentos que impactaram a demanda de grãos brasileiros e não a produção. 

Tivemos, ao contrário disso, uma produção normal de milho de soja no Brasil, mas uma alta demanda tanto no mercado interno como no mercado de exportação, dando, consequentemente, sustentação aos preços que hoje percebemos. 

O que podemos esperar do mercado de grãos, especialmente milho, para este ano? 

Entendo que o desenho do cenário do mercado de grãos para 2021 deve se basear principalmente em três fatores. 

O primeiro deles é o estoque de passagem. Entramos em 2021 com baixa reserva de milho, baixo estoque de passagem, o que deverá ser recomposto com as tradicionais duas safras que temos. 

Na safra de verão, a previsão que temos neste momento é de uma produtividade normal, mas em uma área um pouco menor. Assim, não se espera uma produção desta primeira safra acima do que aconteceu no ano passado, sendo esperado até mesmo alguma queda nessa produção. 

Já a segunda safra (safrinha 2021), está em processo de plantio e só entrará no mercado no segundo semestre com uma perspectiva de aumento de área plantada. 

Isso, somado a possibilidade de um clima normal, que é o que se prevê neste momento, indica que podemos ter uma safra cheia. 

Com a confirmação desse cenário, teremos alguma pressão nos preços, ou seja, a soma das duas safras se prevê uma provável repetição da produção total que tivemos em 2020, com pouca variação em torno disso.  

Além disso, quando falamos em safra de milho também é fundamental levarmos em conta o que acontece nos Estados Unidos, já que esse país produz o equivalente a 35% do total de milho produzido no mundo. 

O pico do plantio da safra dos Estados Unidos ocorrerá ainda em abril e maio, portanto, é muito prematuro qualquer estimativa de produção.  

Ocorrendo uma produção normal, é mais um componente de normalização de preço que hoje encontramos. 

O terceiro fator para desenhar o cenário para 2021 é o câmbio. Não se prevê nenhuma queda brutal do câmbio, ou seja, uma valorização forte do real. Existem previsões que apontam que o câmbio estará mais atenuado durante 2021, mas isso nos diz que continuaremos competitivos para exportar. 

Dessa maneira, o cenário que se pode desenhar neste momento no mercado de grãos é o de preços um pouco arrefecidos, entretanto ainda preços robustos para o milho durante o ano 2021. Um bom negócio a todos! 

Santa Dica

O Santa Dica, podcast semanal de perguntas e respostas da Santa Helena Sementes, convida especialistas experientes do agro para responder dúvidas abordando os temas mais relevantes e debatidos do setor agropecuário, especialmente relacionados às culturas de milho e sorgo.

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