A Agricultura de Precisão (AP) já é realidade em muitas fazendas, mas em muitas outras a AP ainda não foi implantada e até mesmo é considerada algo que funciona apenas em grandes áreas.
Neste episódio, o especialista Luis Gustavo é nosso convidado e esclarece sobre essas e outras dúvidas que cercam o tema Agricultura de Precisão.
Luis Gustavo Mendes é Engenheiro Agrônomo, licenciado e mestre pela Esalq/USP. Atualmente é empreendedor pela BullGreen e Agribase, no ramo de tecnologia no agronegócio.
É possível implantar a Agricultura de Precisão em pequenas e médias propriedades?
Talvez essa seja a pergunta que mais recebo no meu dia a dia. Muita gente relaciona ainda Agricultura de Precisão (AP) com máquinas caras, como um piloto automático de 60 a 100 mil reais e outras tecnologias caras.
Isso faz com que os produtores achem que a AP não vai caber naquelas fazendas que eles estão atuando.
No entanto, na verdade o conceito de Agricultura de Precisão é outro. A AP leva em conta que as lavouras elas não são uniformes, ou seja, que temos variabilidade presente ali nas áreas.
Por exemplo, eu sei que eu tenho lugares (tenho manchas) que produzo mais e manchas que produzo menos na minha fazenda. A Agricultura de Precisão visa procurar tecnologias para que eu explore melhor essas manchas, para tentar rentabilizar mais, mas não necessariamente com tecnologias caras.
Por isso, existe sim como aplicar Agricultura de Precisão em pequenas e grandes fazendas sem ter que comprar máquinas, sistemas, plataformas que estão presentes no mercado e que às vezes o produtor acha que não cabe na sua propriedade.
Além disso, você não vai aumentar sua produtividade comprando uma plataforma cara se existem passos anteriores (básicos) que você não ajustou na propriedade, como por exemplo se o solo não estiver bem corrigido.
Da mesma forma, não adianta comprar um equipamento com piloto automático e argumentando que vai auxiliar na colheita em linhas paralelas se o solo não possuir nutriente necessários para uma boa safra. O que vai acontecer é que você vai colher uma safra ruim em linhas paralelas, e não aumentar a produtividade.
Muitas vezes isso acontece e o produtor acaba imaginando que a AP não funciona, ou que é muito caro. A verdade é que esses equipamentos são sim excelentes ferramentas, mas não existe piloto automático milagroso nem plataforma da salvação, elas são apenas ferramentas para a gente tentar fazer melhor na lavoura.
Mas antes disso devemos nos atentar aos passos anteriores: olhar para dentro de casa e ver se a fazenda possui análises de solo, mapas de fertilidade, mapas de produtividade, alguns mapas de recomendação e outro para assim seguir com a AP.
Lembrando que muitos desses mapas conseguimos de forma gratuita na internet sem precisar comprar uma plataforma, ou seja, aquelas pequenas e médias fazendas já conseguem olhar para dentro de casa com esse tipo de tecnologia e enxergar variabilidade na área.
Dessa forma, podemos começar a implantas a AP, traçando objetivos, estratégias para conseguir ser mais eficiente, reduzir os custos, rentabilizar mais dentro das suas fazendas.
Outro bom exemplo da Agricultura de Precisão em pequenas e médias propriedades é a amostragem em zonas de manejo, possibilitando fazer aplicações em células.
Se eu caminhar na lavoura coletando e amostrando o solo, depois mando essas amostras para o laboratório, mesmo sem ter GPS podemos fazer a aplicação em célula.
Então cada talhão, por exemplo, vai ser uma célula e vamos mudando a dosagem de uma célula para outra.
Fonte: Professor José Paulo Molin, ESALQ/USP
Como selecionar qual tecnologia cabe em cada tipo de fazenda?
Como já comentamos, muita gente correlaciona erroneamente a tecnologia com o conceito de Agricultura de Precisão.
Então gostaria de ressaltar que o GPS e Drone por si só não é Agricultura de Precisão. A AP é o conceito de tratar diferente as diferentes áreas da sua propriedade.
Para começar respondendo essa pergunta vou me ater em uma dúvida comum que é o uso do satélite ou do drone.
Cada tecnologia vai ter seus benefícios, mas eu recomendo as imagens de satélite para produtores estão iniciando com a tecnologia no campo e não possuem muito dinheiro para investir, já que muitas imagens de satélite conseguimos de graça na internet.
Com auxílio dessas imagens, conseguimos olhar a biomassa, criar mapas de altimetria, de declividade, saber a porcentagem da área da fazenda que é mecanizável, delimitar áreas úteis na lavoura, delimitar APP, reserva legal, planejar estradas, planejar talhões de forma otimizada e outros.
Temos também softwares, como o QGis, para processamento desses dados de forma gratuita, inclusive tenho tutoriais no YouTube pela Agribase ensinando como confeccionar esses mapas.
Portanto, temos muitas informações gratuitas à nossa disposição permitindo que pequenas e médias fazendas apliquem e tenham resultados mais eficientes.
Não podemos deixar de falar dos drones, que também são uma excelente ferramenta e apresenta até maiores detalhamentos e maiores vantagens frente aos satélites gratuitos, porém ele tem um certo custo agregado alto.
Concluindo, existem diversas estratégias para gente praticar a Agricultura de Precisão nas propriedades, inclusive AP sem precisar fazer grandes investimentos como aplicação em célula e outras, sendo que isso pode ser o primeiro passo para mais tecnologia na sua propriedade.
Santa Dica
O Santa Dica, podcast semanal de perguntas e respostas da Santa Helena Sementes, convida especialistas experientes do agro para responder dúvidas abordando os temas mais relevantes e debatidos do setor agropecuário, especialmente relacionados às culturas de milho e sorgo.
