Controle de percevejo no milho e por que sua incidência está aumentando? T.2 Ep.10

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Você notou que as populações de percevejo no milho vêm aumentando?  

Os ataques de percevejo no milho têm aumentado nas últimas safras, e saber como fazer um manejo adequado da praga e essencial.  

Hoje vamos explorar melhor o tema com  José Fernando Jurca Grigolli, mais conhecido como Fernando.

Fernando é engenheiro agrônomo pela UFV mestre em produção vegetal e Doutor em entomologia agrícola pela Unesp Jaboticabal além de ser sócio proprietário pesquisador da Famiva pesquisa e soluções agrícolas. 
 

Por que estamos vendo maior incidência de percevejo no milho?  

Os percevejos são uma das principais pragas hoje na agricultura brasileira tanto na cultura da soja quanto na cultura do milho.

Quando falamos de ataque de percevejo na cultura do milho nós temos sempre que pensar no sistema de cultivo que esse milho está inserido.

É comum a gente fazer cultivo do milho safrinha no sistema “soja-milho”, ou seja, fazer o cultivo da soja e depois entrar com o milho. Esse sistema predomina o cerrado do Brasil e nas principais regiões produtoras do Brasil.

Isso faz com que tenhamos um estímulo ao aumento da população de percevejo. O percevejo se alimenta do grão na fase de enchimento na cultura da soja, sendo que esse inseto tem uma capacidade reprodutiva muito grande

É claro que o agricultor faz o manejo na cultura da soja, mas quando chega no enchimento do grão o manejo dessa praga se torna muito complexo, especialmente devido aos produtos que a gente tem hoje disponíveis e pela presença de proteína na área que vem do grão.

O inseto se alimenta dessa proteína e se reproduz muito, fazendo com que quando a soja finaliza o ciclo, tenhamos uma população de percevejo na área já estabelecida, já estruturada e em muitos casos, em diversas fases de desenvolvimento.

Assim, teremos ovos, ninfas pequenas, ninfas grandes e adultos. Essa sobreposição de gerações dificulta muito o manejo.

Então, esse sistema de cultivo possibilita que a praga esteja no local onde vamos colocar o alimento para ela, já que tiramos a soja e na sequência entramos com o milho. Em algumas regiões, vemos até mesmo a semeadura do milho no mesmo dia da colheita da soja.

Quando o milho inicia o processo de emergência o percevejo, que já está no ambiente, vai se alimentar dessas plantas e isso vai causar um prejuízo muito grande para a cultura.

E é nesse contexto que entramos com a semeadura do milho, lembrando que o milho é uma cultura que no início do desenvolvimento das plantas é muito sensível ao ataque de percevejos, seja o percevejo-barriga-verde, seja o percevejo-marrom ou outro percevejo fitófago que possa eventualmente está por ali.

Para se ter uma ideia, estudos mostram que o nível de controle de percevejo na cultura do milho seria de 0,8 percevejos/m², ou seja, um nível extremamente baixo.

Perceba, portanto, o risco que essa lavoura corre. Temos a cultura iniciando seu desenvolvimento e uma população altíssima de percevejos se alimentando dessas plantas.

Obviamente isso vai causar um prejuízo muito intenso, com redução de produtividade e impactando o custo de produção, uma vez o produtor vai ter que lançar mão a ferramentas de controle dessa praga no ambiente.

A questão de percevejo é um problema de sistema de produção e infelizmente, expandindo um pouco mais o leque, o percevejo vem se adaptando também à cultura do algodão.

Por isso, os produtores que fazem o sistema de cultivo soja-algodão também estão sofrendo muito com o percevejo pelo mesmo motivo: a população da praga aumenta na soja e causa um problema sério na cultura subsequente. 

Percevejo no milho é uma praga que temos que pensar o ano tudo como se fosse o bicudo do algodoeiro, fazendo manejo em toda a época do ano onde há cultura instalada para evitar que a população fique fora de controle.

E como podemos fazer o melhor controle do percevejo no milho?    

O controle do complexo de percevejos na cultura do milho envolve uma série de ações. A primeira delas é fazer o monitoramento estruturado, uma prática extremamente importante.

Monitoramento do percevejo no milho

O agricultor, técnico ou agrônomo que acompanha aquela lavoura deve entender como está a população das pragas, quanto de cada inseto temos na área, qual é o estádio de desenvolvimento, etc.

Essas informações vão ser a base para tomarmos decisões, já que só vamos conseguir usar uma eventual ferramenta se houver necessidade de controle, além de posicionar essa ferramenta de forma adequada se estivermos munidos com essas informações. 

Dessa forma, o monitoramento é o pontapé inicial para conseguir melhorar nossos níveis de controle de percevejo na cultura do milho. 

O monitoramento deve ser feito a cada cinco dias na lavoura. Devemos caminhar por dez pontos aleatórios na área e observar a presença da praga.

Quando é a área de milho safrinha é extremamente interessante fazer o monitoramento desde o final da safra de soja ou da safra da cultura que antecede a o milho safrinha.

Entender e ter o conhecimento da elevação da população na área dá uma base muito forte na tomada de decisão. 

Tratamento de sementes

A questão do tratamento de sementes que é fundamental. O uso de neonocotinoides no tratamento de semente ajuda demais o controle da praga, dando uma segurança maior ao produtor.

Ressalto que quando a população da praga é muito alta, somente o tratamento de sementes com inseticida químico geralmente não é capaz de segurar a infestação de percevejos.

Por isso, o início do processo é o monitoramento, depois é o tratamento de semente que é uma ação localizada com um intervalo que dura no campo de 10 a 15 dias mais ou menos, dependendo do produto, das condições de chuva. Depois disso temos as aplicações de inseticidas, como veremos a seguir.

Aplicações de inseticidas

Temos as aplicações de inseticidas quando necessário de forma foliar e neste momento devemos nos atentar ao estágio de desenvolvimento da planta de milho.

Isso porque temos um nível crítico de ataque em milho até as plantas atingirem V4 ou seja, até a quarta folha completamente expandida do milho é o período em que o percevejo causa mais danos nas plantas.

Assim, precisamos monitorar muito bem do início da emergência até as plantas atingirem V4. 

Obviamente que se o produtor atingiu o nível de controle, que é aproximadamente 0,8 percevejos/m², a sugestão é fazer a aplicação de alguns inseticidas químicos.

Existem diversos produtos registrados no mercado e é extremamente importante a gente conhecer o comportamento de cada inseticida que temos disponível para colocar o produto certo, na dose correta e na sequência de aplicação adequada.

Também é importante seguir todas as boas práticas agrícolas, ou seja, aplicar nos horários mais propícios, se proteger e utilizar o EPI, fazer a aplicação com a ponta de pulverização adequada, ou seja, todos aqueles detalhes da aplicação que vão ser diferencial no controle da praga.

Além disso, há alguns produtos biológicos para o manejo da praga que têm crescido muito. Muitos ainda estão em fase de validação e de entendimento em como esses produtos podem nos ajudar.

Desalojantes

Por fim, temos os produtos que conhecemos como desalojantes, que tem um potencial de uso muito grande na cultura do milho, já que os percevejos ficam escondidos ali na palhada.

Quando fazemos a aplicação do inseticida químico junto com esse desalojante temos uma melhoria na eficácia de controle, por essa razão os desalojantes são extremamente positivos nesse cenário de controle de percevejo no milho. 

Eu acredito que, com essas ações integradas, de forma estruturada e planejada conseguimos reduzir os prejuízos causados pelo percevejo no milho e, obviamente, atingir níveis de produtividade mais altos. 

Temos que sempre lembrar que mesmo em uma área onde houve o ataque intenso de percevejo, não devemos abandonar a lavoura.

Quando fazemos uma adubação de cobertura e uma adubação equilibrada estamos dando ferramentas para a planta conseguir se recuperar do ataque.

É muito comum não conseguirmos fazer as aplicações no momento certo, a planta ficar bastante atacada, mas se fizermos alguma ação de suporte que ajude a planta a se estabelecer melhor, ela consegue passar por esse período de estresse e melhorar o seu nível de produção.

Claro que, dependendo do ataque da praga, a produtividade vai ser comprometida, mas em uma escala menor em relação à se não tivéssemos feito nenhuma ação mais incisiva de suporte para as plantas.

Veja também:  
Cigarrinha-do-milho e enfezamentos: como manejar?
Como melhorar o controle da Spodoptera frugiperda?

Santa Dica

O Santa Dica, podcast semanal de perguntas e respostas da Santa Helena Sementes, convida especialistas experientes do agro para responder dúvidas abordando os temas mais relevantes e debatidos do setor agropecuário, especialmente relacionados às culturas de milho e sorgo.

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