Fumagina no milho é formada por um fungo que se alimenta de substâncias açucaradas excretadas no processo de alimentação de insetos-praga – cigarrinha-do-milho, pulgão e mosca-branca – e vem preocupando produtores de várias regiões do Brasil.
Por isso, neste episódio do Santa Dica, o Dr. Mauricio Paulo Batistella Pasini explica sobre o processo de formação, a relação com os inseto-praga, as perdas da lavoura e como realizar o manejo da fumagina no milho.
Dr. Mauricio é entomologista, Engenheiro Agrônomo, Mestre e Doutor em Agronomia pela Universidade Federal de Santa Maria.
A formação da fumagina, mais recentemente encontrada no milho, é consequência da cigarrinha-do-milho?
Na cultura do milho, precisamos ficar atentos principalmente a 2 grupos de insetos, cigarrinha e pulgão, que em decorrência do processo de alimentação propicia a formação de fumagina, mas isto também é válido para outros insetos que tem relação muito forte com o floema da planta.
Toda vez que o inseto vai se alimentar, ele introduz o seu aparelho bucal na planta para chegar no xilema, em busca de água e sais, e no floema, em busca de açúcar, fotoassimilados, aminoácidos e proteína.
Dentro do inseto existe uma espécie de câmara/filtro onde permanece tudo o que é interessante em nível nutricional e o que for de açúcar simples é excretado.
Essa substância adocicada em contato com fungos presentes do ar dá início ao processo de formação da fumagina no milho.
Mas quando isso acontece? Geralmente, quando existem populações maiores de insetos-praga, ou seja, maiores densidades populacionais decorrentes tanto do pulgão, que estamos acostumados, mas também da cigarrinha.
Ou seja, a fumagina no milho é formada por um fungo oportunista que está utilizando o açúcar que foi excretado pela cigarrinha ou pelo pulgão para se desenvolver sobre essa estrutura açucarada.
Além do processo do dano direto devido à alimentação, a fumagina também traz como consequência a diminuição da eficiência fotossintética da planta.
É importante destacar que a fumagina se forma quando temos maiores densidades populacionais e quando identificada na planta de milho significa que teremos em torno de 15% de perda do potencial produtivo.
Além disso, toda vez que o inseto introduz e tira o seu aparelho bucal na planta há um extravasamento de fotoassimilados que também favorece a formação de fumagina.
Este processo abre a porta da planta, faz com que tenha uma lesão neste tecido e por isso também favorece a penetração de bactérias e fungos que passam a aumentar as lesões.
Em algumas regiões, além da cigarrinha e do pulgão, vemos a presença de mosca-branca não só em processo de alimentação na cultura do milho, mas também em processo de reprodução, o que a torna mais um agente causador de dano direto na cultura.
Como a fumagina prejudica a lavoura?
Com a formação da fumagina, ocorre a redução da eficiência fotossintética devido à diminuição da radiação solar seja nos comprimentos de onda azul, que tem o seu papel no processo fisiológico da planta, seja também os comprimentos de onda de vermelha, que está mais associada ao processo de fotossíntese.
Outra questão é a sua coloração escura, visto que o preto absorve calor e consequentemente causa o aumento da temperatura da superfície foliar.
Isso faz com que a planta desenvolva mecanismos fisiológicos para ter um fechamento estomático mais forte e diminui ainda mais a eficiência fotossintética dessa folha em si.
A formação de fumagina é mais intensa quando temos situações com alta densidade populacional de inseto, mas essa situação não afetará necessariamente o número de grãos nem de fileiras da espiga de milho, mas sim o peso do grão.
Com isso, a perda será na unidade e todas as características bromatológicas que buscamos na cultura do milho serão afetadas devido à diminuição do peso do grão.
Neste caso, tanto para produção de silagem quanto de grãos, a qualidade e os subprodutos são afetados. Ou seja, um pequeno inseto que causa uma lesão na planta impacta toda a cadeia de produção.
O que temos que refletir é que existem procedimentos e ações para mitigar os efeitos da fumagina com o uso de ferramentas cujo alvo será o fungo, mas o ideal é trabalhar no agente causal e eliminar esses insetos.
Dependendo do estádio da cultura, a formação da fumagina no milho pode ter mais ou menos danos?
É importante trabalhar com eles em baixas densidades populacionais principalmente de V4 até o pendoamento, em que os principais causadores de impacto econômico são o pulgão e a cigarrinha.
Na cultura do milho de palito até V4 o foco principal é o percevejo barriga-verde. Então, se cada 4 m² encontrar um percevejo deve ser tomada uma decisão para manter a população baixa, afinal o percevejo causa um impacto muito grande no potencial produtivo.
Se tiver cigarrinha, é necessário fazer manejo principalmente de V4 até o pendoamento, mas também em todo o ciclo da cultura.
Portanto, de V4 até o pendoamento deve-se manter a população de insetos baixa e tomar decisão baseado na presença ou ausência. Quando falamos em cigarrinha, a tomada de decisão é até o pendoamento e com pulgão quando se encontra uma média de um indivíduo alado por planta.
O grande erro é querer manejar esses insetos com altas densidades populacionais. O ideal é manter populações baixas e desta maneira mantemos o potencial produtivo e evitamos todas as consequências que são originadas da alimentação dos insetos.
É importante destacar que existem ferramentas químicas e biológicas e devemos rotacionar essas ferramentas para ter esses ativos ou ações para manter população baixa e, principalmente, a sustentabilidade na cultura do milho.
Temos mais prejuízo com a fumagina ou com as pragas?
Na minha opinião, o inseto afeta muito mais o potencial produtivo, até porque na cultura do milho quando há formação de fumagina em maior expressão ela tende a se acumular da parte mediana à inferior do dossel vegetativo, por isso não afeta tanto a chegada de radiação solar na parte mais superficial.
Quando a fumagina acontece em nas folhas próximas a espiga do milho, tem um impacto muito mais significativo.
Ou seja, a formação de fumagina se dá na parte inferior e quando a vemos significa que algum açúcar ou fotoassimilado deixou de ser utilizado para o enchimento de grão, crescimento ou potencial produtivo da cultura.
Lembrando que controlar a fumagina pode ser muito tarde, por isso a importância de controlar os insetos que atuam como agente causador, como a cigarrinha do milho, pulgão e, em algumas situações, a mosca-branca.
Temos que estar sempre atentos e ter capacidade de resiliência, porque cada ano nos surpreendemos principalmente em relação a insetos-pragas.
Para o manejo da fumagina no milho temos que fazer o manejo das pragas, mas há alguma outra alternativa?
Após a formação de fumagina pode-se utilizar alguns produtos que vão atuar sobre esse fungo, mas é necessário e muito importante evitar a sua formação.
Podemos fazer uma ação curativa, mas antes mesmo de controlar a fumagina no milho temos que entender se temos altas densidades populacionais dos insetos. Feito isso, temos que atuar muito fortemente sobre os insetos, lembrando que geralmente as plantas que têm presença de fumagina necessariamente são mais atrativas para os insetos-praga.
Toda vez que for feito um lado a lado é muito importante deixar uma parcela sem aplicação e sem manejo para conhecer como cada híbrido está em termos de atratividade para o inseto, afinal sabemos que as atratividades serão diferentes em função do híbrido e refletir nas densidades populacionais do inseto.
Você não deixará de usar um híbrido por isso, mas conhecendo o produto saberá como atuar e se precaver daquela possível população.
Hoje, a cultura do milho pode variar muito em termos de sua expressão, por isso é importante ter e buscar informação e manter a população baixa até o pendoamento, assim grande parte desses prejuízos podem ser mitigados.
Conclusão
Primeiro, é muito importante eliminar a presença de plantas de milho voluntário, porque alguns insetos utilizam para persistir no ambiente e fazer a nossa parte na lavoura.
Segundo, executem o monitoramento desses insetos. Para isso, existem placas amarelas que são muito efetivas para monitoramento.
Terceiro, os híbridos variam de região para região, por isso é importante ter em sua propriedade um pequeno ensaio de híbridos para auxiliar na sua tomada de decisão, afinal um híbrido que é bom
para uma região pode não ser para outra e, por esse motivo, temos que ter cuidado com as informações que passamos.
Quarto, faça o manejo dos insetos desde a pré-semeadura do milho através de monitoramento e mantenha a presença da população baixa até pelo menos o pendoamento.
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Santa Dica
O Santa Dica, podcast de perguntas e respostas da Santa Helena Sementes, convida especialistas experientes do agro para responder dúvidas abordando os temas mais relevantes e debatidos do setor agropecuário, especialmente relacionados às culturas de milho e sorgo.
Veja também os episódios do Santa Dica sobre Como fazer o manejo dos Enfezamentos e sobre Mancha-branca no Milho.