Milho em terras baixas T.3 Ep.23

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O milho pode ser uma opção na rotação com arroz irrigado em terras baixas. Para esclarecer sobre esse assunto, convidamos o Professor Paulo Regis.

Paulo Regis possui graduação em Agronomia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1970), mestrado em Fitotecnia pela UFRGS (1972) e doutorado em Agronomia, pela University of Arkansas, EUA (1980). Foi professor da UFRGS durante o período de 1972 a 2008, quando se aposentou. Possui experiência na área de Ecofisiologia e Manejo de Plantas Cultivadas, com ênfase nas culturas de milho e arroz irrigado.

Publicou diversos artigos científicos e foi autor de vários livros e capítulos de livro em sua área de conhecimento. Desde 2008 atua como consultor técnico do Instituto Rio Grandense do Arroz (IRGA).

O cultivo do milho é mais uma opção para a rotação com arroz irrigado em terras baixas, na sua visão quais as principais vantagens desse sistema de rotação?

1.    Diversificação

Uma realidade hoje da lavoura orizícola é a diversificação de cultivos. Nesse aspecto, a soja entrou há 13 anos e hoje já tem 415.000 hectares, ou seja, 45% da área de arroz entra em rotação com soja com bastante sucesso.

Um dos grandes benefícios da diversificação de culturas em terras baixas é o fato que ela propicia a diversidade de fontes de renda e isso determina a melhor gestão de riscos climáticos e de preços.

Por exemplo, o preço do arroz estava foi bem baixo, ao redor de R$ 70,00 o saco, enquanto o preço da soja e do milho era elevado. Com isso, o produtor tem mais do que uma fonte de renda para tocar o seu negócio.

Além disso, um dos problemas críticos do monocultivo do arroz é a resistência de plantas daninhas a determinados herbicidas.

Com a diversificação de culturas na área há possibilidade de fazer a rotação de mecanismos de ação e com isso controlar melhor as plantas daninhas.

Outro aspecto é que, normalmente, a produtividade de arroz em rotação com soja, por exemplo, tem aumentado em função daquilo que a soja deixa.

Com a rotação de culturas temos também uma melhor distribuição de máquinas e mão de obra durante o processo produtivo.

2.    Manejo conservacionista e ciclagem de nutrientes

O manejo conservacionista do solo também pode ser favorecido, já que temos rotação com culturas de estação estival e durante o outono e inverno podem ser cultivadas espécies para cobertura de solo e para pastejo, visando uma integração lavoura-pecuária neste caso.

Todo esse processo determina uma ciclagem de nutrientes e evita a perda de nutrientes, como os mais móveis, e também assegura a quebra de ciclo de pragas e doenças no momento que se tem outras culturas em rotação.

3.    Possibilidades de uso do milho

Com relação especificamente sobre o milho, em rotação com o arroz ele propicia todas as vantagens que a soja tem dado, como o já comentado aumento de produtividade.

O milho, por outro lado, tem múltiplos usos na propriedade e pode ser utilizado na forma de grão ou silagem na alimentação da pecuária.

4.    Precificação

Os pontos que estão determinando esse grande interesse dos produtores de arroz é o fato de que os preços atuais do milho são muito atrativos.

Só pra ter uma ideia, uma grande empresa que está produzindo milho fez venda futura do grão para entrega em março do ano que vem à R$ 102,00 o saco de 60 kg, um preço muito atrativo.

Por outro lado, a produção obtida no estado do Rio Grande do Sul não atende a demanda e tem que importar anualmente milho de outros estados e países. Hoje, com os atuais preços do frete, é uma coisa que está se tornando bastante difícil.

5.    Uso da estrutura de irrigação

Outra vantagem é que as áreas de arroz já dispõem de sistemas de armazenamento e distribuição de água que são usados na lavoura de arroz e isso funciona como um verdadeiro seguro da produtividade de milho. Isso porque o milho é uma espécie muito exigente em água e quase não tolera sua deficiência.

O milho também é uma cultura que produz uma grande quantidade de palha: para produzir 10 toneladas de grãos, deixa 10 toneladas de palha, o que é interessante para a construção da fertilidade do solo.

Há uma possibilidade bem plausível das regiões mais quentes do estado, por exemplo, na região central da Fronteira Oeste, é perfeitamente viável o cultivo de 2 espécies de estação estival.

Ou seja, é possível plantar se milho em agosto, sendo colhido para grão em janeiro. Se for o caso de silagem, é possível colher em dezembro e plantar soja em sucessão.

6.    Informações técnicas

Outra vantagem do milho é que já existem informações técnicas, que foram os resultados obtidos pelo IRGA, Universidade Federal de Santa Maria e Universidade Federal do Rio Grande do Sul, os quais foram consolidados em 2 circulares técnicas.

Então, a informação técnica já está disponível, diferentemente do que ocorreu com a soja, em que ela entrou e a pesquisa só foi desenvolvida depois.

Como contornar as dificuldades do cultivo de milho em terras baixas?

Os principais desafios do cultivo de milho em terras baixas, são ditados pela fisiologia da planta. Em relação à soja, o milho é muito mais sensível à estresses, tanto por excesso quanto por deficiência hídrica.

Se observarmos as terras baixas, normalmente nas áreas arrozeiras da metade sul do estado do Rio Grande do Sul, onde chove menos do que na metade norte, a drenagem é mais deficiente e os solos têm baixa capacidade de retenção de umidade.

Por isso, um dos pré-requisitos essenciais para se ter altas produtividades de milho é adequação da área, que envolve diversas ações.

Outro desafio é que, na realidade, o custo de produção do milho é mais elevado do que o da soja. Em termos médios, para plantar 1 ha de milho gasta-se 50% a mais do que para implantar 1 ha de soja, portanto o custo de produção é maior.

Além disso, em áreas de arroz se usa muito herbicida e o milho é um pouco mais sensível, sendo necessário cuidados quanto aos resíduos desses herbicidas.

Também há que se levar em consideração que os orizicultores não têm ainda experiência com a cultura do milho, então tem que ter cuidado nesse sentido.

Nesse sentido, o IRGA está com um projeto de milho em terras baixas e estão sendo desenvolvidas várias ações.

Em uma dessas ações todos os extensionistas e pesquisadores do milho do IRGA foram treinados sobre a cultura do milho durante 2 dias, sendo realizado também um seminário para os produtores interessados no cultivo do milho.

Temos também já delineado para essa safra 2022/23 vários trabalhos de pesquisa e atividades de extensão que são a implantação de unidades demonstrativas em todas as 6 regiões orizícolas do estado do Rio Grande do Sul.

Umas das dicas que poderia dar para o produtor que estiver interessado em introduzir a cultura do milho é que faça isso numa área pequena, para menores riscos e para se familiarizar com o manejo da cultura.

O que é importante para ter alta produtividade de milho? Além disso, como realizar o manejo e quais são os principais pontos de atenção?

Podemos considerar uma alta produtividade uma produção superior a 10 toneladas por hectare. Para se ter uma ideia a produtividade média do Rio Grande do Sul do milho em terras altas, nas últimas 5 safras, foi em torno de 90 sacos por hectare.

Pela estrutura de irrigação que temos disponível em áreas de arroz, temos conseguido 10 toneladas por hectare, ou seja, de 167 sacos por hectare, em condições experimentais e em condições de lavouras que têm sido conduzidas pelos produtores.

Isso porque a água é um dos grandes responsáveis pela oscilação da produtividade de milho.

Portanto, para altas produtividades em terras baixas temos que tocar em 2 pontos, sendo o primeiro deles a adequação da área, que consiste em escolher áreas da propriedade com menores risco, com declives mais favoráveis.

É necessário fazer a macrodrenagem já que o milho, assim como a soja, não tolera excesso hídrico que ocorre quando, por exemplo, temos grandes volumes de precipitação.

O segundo ponto é não deixar o milho com déficit hídrico. O milho é uma planta extremamente exigente em água. Para se ter uma ideia, durante o período reprodutivo, que é o período chamado também de espigamento, a planta necessita de 6 mm de água por dia para atender a demanda de evapotranspiração, uma quantidade bastante grande, sendo bastante sensível a deficiência.

O milho é sensível na falta da água nesse período de florescimento e porque normalmente pendoa em condições de seca, mas ela não larga a espiga.

Se essa condição de seca perdurar por um período de 7 dias e chover, a planta vai emitir as espigas, mas não vai ter pólen para fertilizar, fazendo com que as espigas fiquem falhadas, ou seja, com poucos grãos.

Então a irrigação é um ponto essencial para se atingir essas altas produtividades.

Outros aspectos também que são importantes para o milho e soja diz respeito à descompactação do solo, porque normalmente as áreas de arroz são muito compactadas pelo trabalho intensivo do solo.

A correção do pH do solo também é necessária, já que para o arroz irrigado normalmente não se faz a calagem pelo fato de ter água, tornando presente o efeito da autocalagem.

No caso do milho e da soja, temos que ter em mente que são plantas são extremamente sensíveis, sendo imprescindível a correção do pH.

Além disso, o milho é muito exigente em nutrientes. Assim, para uma produtividade alta é exigido uma grande quantidade de nitrogênio, fósforo e potássio.

Outro ponto é a escolha da época de semeadura em milho irrigado. A época de semeadura ideal é aquela que faz que a planta floresça, fazendo com que largue o pendão e a espiga no período do ano em que a radiação solar é maior, ou seja, quando os dias são mais longos.

Isso ocorre no Rio Grande do Sul entre os meses de novembro a janeiro, então temos que plantar o milho de agosto até outubro para que nós tenhamos a máxima radiação solar quando a planta está com a máxima área folhar, que é nesse período do florescimento.

Em pesquisas desenvolvidas pelo IRGA, tem-se observado que há uma variação bastante grande de híbridos quanto a adaptação a terras baixas.

Então é importante que o produtor, antes de escolher o híbrido a ser utilizado, recorra as informações de pesquisas que são disponíveis na estação experimental do arroz do IRGA e nas estações regionais que o IRGA tem em Uruguaiana, Santa Vitória do Palmar, Cachoeirinha, Cachoeira do Sul e Camaquã.

Então a escolha e é a adaptação do híbrido é importante, assim como o potencial produtivo desses híbridos, e tecnologia que está embarcada.

Então, além desses fatores para construir altas produtividades, temos também que levar em consideração os fatores de proteção, ou seja, nós temos que manejar adequadamente pragas, doenças e plantas daninhas para que elas não baixem o potencial produtivo que se deseja.

Conclusão

É extremamente importante que haja integração de todas as práticas de manejo, porque não adianta nós termos, por exemplo, 9 práticas bem executadas e uma está limitando, porque é essa prática que estiver limitando é que vai determinar a produtividade de milho.

Como conclusão final, aos preços atuais, o cultivo de milho é viável financeiramente desde que sejam obtidas produtividades altas e estáveis, ou seja, produtividades acima de 10 toneladas, que equivale a 167 sacos por hectare, sendo que em condições experimentais tem-se conseguido até 250 sacos por hectare de produtividade de milho, dependendo do híbrido.

Para se ter uma ideia, se nós tivermos a oportunidade de 167 sacos aos preços atuais, o milho deixa uma margem líquida, ou seja, a diferença entre a receita bruta e o desembolso efetuado, ao redor de R$ 4000,00 a R$ 5000,00 por hectare, que é uma margem muito boa comparada com o arroz.

Para acessar às circulares técnicas do IRGA é possível acessar o site oficial aqui.

Santa Dica 

O Santa Dica, podcast de perguntas e respostas da Santa Helena Sementes, convida especialistas experientes do agro para responder dúvidas abordando os temas mais relevantes e debatidos do setor agropecuário, especialmente relacionados às culturas de milho e sorgo.

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