Como manejar resistência de plantas daninhas? T.2 Ep.23

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A resistência de plantas daninhas aos herbicidas podem ocasionar perdas de até 30% nas culturas. Para esclarecer melhor sobre o assunto temos conosco, neste episódio, o Prof. Mauro Rizzardi. 

Mauro é engenheiro agrônomo, além de mestre e doutor na área de plantas daninhas. Atualmente é professor titular da Universidade de Passo Fundo, com grande experiência no manejo e controle de plantas daninhas, atuando na área há mais de 30 anos e em diferentes culturas. 

O que são plantas resistentes como elas se tornam resistentes? 

Segundo o Comitê de Ação a Resistência aos herbicidas (HRAC), a definição de resistência é “a capacidade natural e de herdabilidade de alguns biótipos de plantas daninhas em uma dada população, para sobreviver a um tratamento de herbicida, que deveria efetivamente controlar a população em condições normais de utilização”. 

Para contextualizar esse problema, ressalto que o que temos observado é um aumento de algumas espécies anteriormente controladas dentro do sistema. 

Em determinado momento, passamos a não ter um efetivo controle sobre essas plantas e trabalhos realizados por diferentes pesquisadores do Brasil têm identificado aumento significativo de bióticos ou de plantas em si resistentes aos herbicidas utilizados.  

Nos últimos anos o que mais nos preocupou foi a evolução dos casos de resistência ao herbicida glifosato, que é a molécula mais utilizada no manejo de plantas daninhas

Como as plantas daninhas se tornam resistentes?  

Na verdade, o herbicida não causa resistência de plantas daninhas, o herbicida é um agente selecionador.  

Isso ocorre a partir da variabilidade existente nas populações, ou seja, devemos ter em mente que em uma população há plantas com diferentes características, inclusive de tolerância a um determinado herbicida. 

No momento em que eu passo a utilizar repetidamente o mesmo produto e/ou o mesmo mecanismo de ação, eu acabo selecionando aqueles indivíduos que têm características de não serem controlados por aquela dose que normalmente utilizo para o controle dos demais indivíduos sensíveis. 

Portanto, o processo que ocorre é o de seleção, ou seja, a repetição de uso da mesma molécula, fazendo com que sejam selecionados esses indivíduos. 

Resistência de plantas daninhas na cultura do milho  

O que nós temos observado na cultura do milho é um aumento significativo de plantas como o capim-amargoso dentro da cultura, que é uma planta que hoje foi identificada como sendo resistente aos herbicidas inibidores de EPSPs (glifosato) e também herbicidas inibidores da ACCase, principalmente os herbicidas “fop”. 

Outra espécie que tem aumentado bastante a ocorrência na cultura do milho é a planta daninha pé-de-galinha (Eleusine spp.). Principalmente no Brasil central essa planta tem sido um grande problema, sendo que também apresenta resistência aos dois mecanismos que citei anteriormente (EPSPs e ACCase). 

Além disso nós temos mais ao sul, ou seja, no milho safra, situações em que a buva passa a ser problema. Mesmo no milho safrinha já vemos algumas situações em que a buva também é uma dificuldade no sistema de produção. 

A buva é hoje uma das espécies que mais tem crescido em termos de presença em áreas agrícolas, tanto da soja quanto no milho e, novamente, resistente ao glifosato e a outros mecanismos de ação. 

Isso faz com que nós tenhamos que montar uma estratégia adequada e diminuir essa evolução da resistência de plantas daninhas, além de ajudar a mitigar a resistência já existente nas áreas. 

Como fazer o manejo da resistência de plantas daninhas no milho? 

Dentro desse cenário existência já existente em um crescente de seleção de casos de resistência de plantas daninhas e o agricultor ele tem que pensar no manejo diferente dentro do sistema. Mas o que é esse manejo diferente?  

Primeiro ponto, ele não pode ver o herbicida somente como sendo a solução, o herbicida é uma estratégia, é uma ferramenta importante, mas não é a solução. Ele tem que ser usado levando em conta outros aspectos.  

Nós vamos enfrentar a resistência trabalhando com um ambiente de diversidade: diversidade de práticas de manejo, integrando práticas culturais, práticas preventivas e práticas mecânicas, se for possível. 

Com essas 3 práticas integrando a prática química, já temos o primeiro passo para manejar a resistência de plantas daninhas.  

Por exemplo, dentro do manejo cultural temos o estabelecimento da cultura em condições favoráveis, como semear no limpo com uma boa dessecação pré-semeadura e o uso de coberturas vegetais, além da introdução de consórcio com braquiária em áreas de safrinha de milho. 

Além disso, devemos ter atenção no estabelecimento de uma população adequada, ou seja, uma uniformidade nessa população de plantas, resultado também de uma boa distribuição de sementes na área.  

Dessa forma a cultura irá ser uma aliada no controle de plantas daninhas, ajudando a cobrir o solo. 

Então perceba que nós temos possibilidades de integrar o método cultural com o método químico. 

No caso da dessecação pré-semeadura ou seja semeado limpo, é fundamental que nós incorporemos no processo de manejo a rotação de mecanismos de ação para herbicidas.  

Devemos usar antes da semeadura do milho mecanismos de ação que nós não vamos utilizar dentro da cultura, nos dando uma possibilidade de quebrar a sequência de mecanismos. 

Outro ponto fundamental é focar mais na utilização de herbicidas pré-emergentes, ou seja, não deixar somente para o pós-emergente esse controle, somente para um glifosato em cima do milho tolerante ao glifosato. 

Nós temos mecanismos de ação importantíssimos dentro do milho e que não são utilizados dentro da cultura da soja, que é a cultura que faz parte dentro da sucessão soja-milho, ao contrário do glifosato que, normalmente, é utilizado nas duas culturas.  

Temos os inibidores do Fotossistema II, que são as triazinas em geral, dentre as quais, a principal é a triazina. 

Também temos os inibidores de carotenos, como tembotrione e mesotrione, como dois herbicidas que fazem parte desse mecanismo.  

Assim, temos mecanismos extremamente importantes que nós não utilizamos dentro da cultura da soja. Isso faz com que se quebre aquela simplicidade ou repetição de uso de mesmos mecanismos.  

Temos também herbicidas Inibidores da síntese de ácidos graxos de cadeia longa que podem ser utilizados também dentro da cultura do milho  

Integrar esses mecanismos de ação diferentes dentro do sistema nos dão uma possibilidade de controlar aqueles bióticos que não são controlados pelos mecanismos de ação em que identificamos casos de resistência de plantas daninhas.  

É importante ressaltar que temos que pensar nos métodos preventivos, ou seja, tentar trabalhar com a não possibilidade de que essa planta perpetue na espécie. 

Nesse sentido, o bom manejo pós-colheita também é importante para não deixar aquela planta daninha que sobra dentro da cultura infestar a área ou vir a aumentar o banco de sementes. 

Limpar equipamentos, como colhedoras e pulverizadores, para não distribuir as sementes dessas plantas na área, também nos ajudar muito para diminuir esse problema. 

Então métodos preventivos diminuem a produção de sementes, impedem a entrada de sementes de fora para dentro, fazendo um manejo mais efetivo das plantas daninhas, não só as resistentes, mas plantas daninhas de uma maneira geral. 

Em termos de controle químico, quais são as épocas de aplicações ideais no milho? 

Nós temos várias possibilidades de se trabalhar. A primeira delas é com o manejo pré-semeadura, também chamado de dessecação, ou seja, eliminar aquela vegetação existente na área. 

Nesse momento temos um conjunto de herbicidas com ação foliar, absorvidos pela parte aérea da planta, que ajudam a eliminar essa vegetação existente na área. 

Outra modalidade é a utilização dos herbicidas pré-emergentes que, como o nome está dizendo, devem ser aplicados antes da emergência da cultura e das plantas daninhas. 

No caso do milho, os pré-emergentes que temos devem ser aplicados na modalidade do plante e aplique, ou seja, eu planto da cultura antes que tenha a emergência e aplico o herbicida sobre essa área semeada. 

Nesse momento temos, como já citamos, os herbicidas inibidores da síntese de ácidos de cadeia longa e as triazinas. 

Em pós-emergência há a modalidade chamada de inicial e normal ou tardia. Essa divisão está relacionada com o estádio da planta daninha, então tem alguns herbicidas pós-emergentes que controlam plantas daninhas nas fases iniciais de desenvolvimento (2-4 folhas ou 1-2 perfilhos). Outros herbicidas podem ser aplicados em plantas maiores (aplicação normal ou tardia). 

De maneira geral a recomendação que a gente posiciona é que seja feito o controle quando essas plantas estejam nos estádios iniciais, ou seja, 2 a 4 folhas em folha larga e 1 a 2 perfilhos em folha estreita. Em estádios mais desenvolvidos há maior dificuldade de controle. 

Outro ponto importante que nós temos que considerar é o estádio da cultura. Nós sabemos que a matocompetição (aquele efeito negativo que reduz cerca de 30% a produtividade do milho) começa a se manifestar quando o milho está com 2 a 3 folhas. 

Por isso, quando eu tenho plantas daninhas na área e a cultura de milho está com 2 a 3 folhas, não importa o tamanho da planta daninha: eu devo controlar. 

Na medida em que eu vou atrasando o controle em relação ao estádio da cultura, eu vou aumentando o nível de perdas de produtividade. 

Como mensagem final para o produtor, gostaria de enfatizar que ele deve pensar no manejo de plantas daninhas durante o ano todo e não somente dentro de cada cultura. O bom manejo que eu faço na cultura antecessora, por exemplo na soja, vai refletir positivamente na cultura subsequente, no caso o milho. Então pense no sistema! 

Veja também:
Como é o manejo de plantas daninhas do sorgo com o uso do Benefic?

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O Santa Dica, podcast semanal de perguntas e respostas da Santa Helena Sementes, convida especialistas experientes do agro para responder dúvidas abordando os temas mais relevantes e debatidos do setor agropecuário, especialmente relacionados às culturas de milho e sorgo.

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