Você provavelmente já ouviu falar em traits, mas sabe como garantir sua durabilidade?
As traits mais conhecidas são aquelas relacionadas à resistência aos insetos e muito têm se falado sobre seu uso e manutenção da sua eficiência.
Vamos falar sobre esse assunto hoje com o Fernando Hercos Valicente, que é graduado em agronomia pela Universidade Federal de Viçosa, mestre e doutor pela Purdue University, pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo há 36 anos e membro da CTNBio.
O que são traits?
Em geral, o trait é uma característica agronômica que se pretende introduzir via transgenia. Por exemplo, você tem um milho que é Viptera e outros com outras tecnologias.
Assim, temos cada semente com uma tecnologia disponível no mercado para os produtores comprarem.
Como assegurar a durabilidade das traits?
Posso destacar aqui o uso preferencial de materiais piramidados (combinação de dois ou mais genes ou transgenes em um só híbrido), a necessidade de se realizar refúgio e a rotação de genes.
Sobre a rotação de genes, temos, por exemplo, os milhos que tem Cry e VIP que são proteínas bem distintas, com modos de ação totalmente diferentes.
Dessa maneira, é essencial que tenhamos esses cuidados, juntamente com o manejo da resistência aliado ao manejo integrado de pragas (MIP), inclusive nas áreas de refúgio, para evitar o colapso da cultura.
Eu vejo muitos produtores dizendo que o Viptera é uma proteína excelente, que “aguenta muito tempo”. Realmente é uma proteína excelente, mas pode ser que aguente somente 3 a 5 anos.
A razão disso é que o inseto tem uma adaptabilidade muito grande, podendo ter até 10 gerações da praga por ano.
Nós temos que aprender a respeitar o inseto. Uma lagarta-do-cartucho, por exemplo, vive como lagarta do campo de 15 a 18 dias, ou seja, é muito curto o intervalo.
Talvez nesse período, por exemplo, em uma quinta-feira, veja na lavoura lagartas pequenas na planta e na segunda-feira quando voltar ela já esteja grande, mesmo que tenha passado apenas 5 dias, já que isso é um terço da vida da lagarta.
É como uma pessoa de 80 anos e você pegasse 24 anos da vida dela: um terço da vida.
Então temos que entender isso e ter em mente que a função do inseto é alimentar, armazenar energia para gerar pupa, ir para o solo, virar a mariposa, cruzar, produzir muitos ovos com o objetivo final de assegurar a sobrevivência da espécie, como todo organismo vivo.
Por isso, as normas tem que ser seguidas, mas vejo que várias pessoas que estão no campo ainda menosprezam um pouco os insetos. Temos que compreender o objetivo deles de propagação da espécie e perceber que sem as devidas medidas a desfolha será evidente.
Mesmo a lagarta-falsa-medideira com um círculo um pouco mais longo resulta em desfolha na soja e algodão. Assim, recomendamos que o produtor acompanhe de perto sua lavoura.
Além disso, as pessoas que trabalham em determinadas regiões do Brasil são importantíssimas, como em Maracaju, Nova Mutum, Rondonópolis, Oeste da Bahia, Luís Eduardo, Roda Velha, sul de Goiás e Rio Verde, já que essas pessoas têm total conhecimento de quando se inicia um ataque de pragas.
A pesquisa também dá um indicativo, por exemplo, já vi trabalho de professores em que é apresentado a diferença de ocorrência de pragas do Mato Grosso em relação à Bahia, sendo que ambas as regiões são fronteiras agrícolas, com 3 ciclos anuais, mas que tem diferenças.
Portanto, o conhecimento dessas pessoas que estão no campo é importante, mas não podemos menosprezar o início do ataque do inseto, lembrando que o inseto como lagarta se mantém durante um curto período de tempo em que sua função é apenas se alimentar. Por isso, se você “der bobeira”, no final de semana as lagartas podem acabar com a sua cultura.
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O Santa Dica, podcast semanal de perguntas e respostas da Santa Helena Sementes, convida especialistas experientes do agro para responder dúvidas abordando os temas mais relevantes e debatidos do setor agropecuário, especialmente relacionados às culturas de milho e sorgo.