Quais os fatores do mercado de milho brasileiro e sua expectativa a longo prazo?
Hoje vamos falar sobre o mercado de milho, seus fatores de impacto e expectativas com o Alexandre Mendonça de Barros.
Alexandre é engenheiro agrônomo e doutor pela Esalq/USP, membro do Conselho de diversas empresas de expressão no agro brasileiro e Sócio-Consultor da MB Agro.
Quais fatores podem movimentar o preço do milho no mercado doméstico para a safra 20 /21?
A safrinha está dada, é quase uma realidade. Podemos estar errados, mas acho que dentro desse intervalo 67 a 70 ou 71 vai ser e eu tenho de ver qualquer coisa fora disso. Então acho que é uma informação com pouco risco.
A dificuldade de previsão desta safra é devido às chuvas, que ocorreram em quantidade suficiente em algumas regiões, enquanto outras não.
Atendo muitos grupos e tem gente falando em 10, 30 e 40 sacas/hectare, mas também tem gente falando que é 105 sc/ha no Mato Grosso e Maranhão, por exemplo. Mesmo com toda essa dificuldade, com toda a variância, um número da magnitude de 70 sc/ha está de bom tamanho.
Segundo ponto, os chineses precisam de milho, embora fazem parecer que não precisem em alguns momentos. Eles percebem que o mercado está na mão deles e fazem isso, inclusive com a soja.
Agora proibiram o especulador chinês no mercado. Ou seja, se alguém dá uma ordem de compra e se não for produtor de mercado futuro não pode mais executar a ordem, justamente para não alavancar o mercado.
Então, fica claro que os chineses são hábeis, mas eu insisto: os fundos praticamente desapareceram do mercado e o milho continua US$ 6,20/bushel, quando era 3 no ano passado.
Esse é um bom preço como referência, já que não há grandes influências de especulação.
Considerando isso, uma vez colhida nesta safra americana e ela vindo cheia, o mercado futuro deveria ir para os 90 e 80 reais praça Campinas.
No entanto, isso deve ocorrer se a safra americana for bem colhida, sendo que a maior probabilidade é que será bem colhida, mas há riscos.
Isso porque, se a gente olhar a franja do meio Oeste está muito seca e qualquer desvio de produtividade é muita coisa em uma área tão grande. Portanto, ainda temos um “barulho” climático nos Estados Unidos.
Sobre o câmbio, estamos projetando entre 5,10 a 5,50. Nós não acreditamos muito em uma valorização além disso. O Sérgio Vale, economista chefe da MB Associados, fez um trabalho muito legal sobre o que está determinando o câmbio no Brasil.
O que ele fez como determinantes da taxa de câmbio e os resultados foram muito robustos estatisticamente. Ele colocou como variável explicativa do real o diferencial de taxa de juros entre o Brasil e os Estados Unidos. Como outra variável, temos o saldo comercial brasileiro, porque é muito dólar entrando, além da terceira variável que é a dívida do setor público.
Antes de nós entrarmos nessa trajetória explosiva de dívida as 2 variáveis que mais explicavam eram o diferencial de taxa de juros e o saldo comercial. Como era de se prever, e com a dívida sob controle, ela não tinha uma variável explicativa muito grande.
Conforme a dívida explodiu, o coeficiente que explica a dívida ficou 3 vezes maior que as demais. Se a dívida estivesse estável, o câmbio estaria a 4,70. Ou seja, o coração do problema hoje do câmbio é o fiscal.
O que vai contra as contas fiscais, primeiramente são os juros, o qual está subindo e a dívida ficando mais difícil de pagar. Depois, temos o fato de que o ano que vem é eleitoral e normalmente temos mais gastos.
Por outro lado, a economia está crescendo mais rápido e está surpreendendo a arrecadação. Então, começou a ser construída uma visão um pouco mais otimista que a arrecadação vai melhorar e, portanto, o rombo é menor.
Essas semanas pode ser até que o mercado se empolgue um pouco dizendo que a dívida não vai ser tão alta quanto a gente previa porque a arrecadação está melhor. Nossa visão é de que ainda é uma dívida muito alta não resolvida e que o governo não está sinalizando como vai resolver. Esse número de 5,10 a 5,50 faz sentido para a gente.
Junto a isso, podemos concluir com a informação de que Chicago está me dizendo que o milho vai cair uns 20% ano que vem e, se o real ficar onde está, é mais ou menos o que deveria cair o milho dos patamares de preços nós estamos vendo hoje.
Passado essa turbulência de escassez de milho, quais patamares ficarão os preços de milho em 2022 e 2023?
É bastante difícil prever a tão longo prazo assim, mas temos algumas expectativas. O mercado futuro não está falando para mim que vai sair desses 6,20 e vai para redor de 5,30 caindo uns 20% até o ano que vem.
Se nós tivemos uma safra muito boa no Brasil e Estados Unidos, lembrando que temos o fator climático que é imprevisível, esse milho iria buscar os 4 dólares, caindo cerca de 20%.
Então se estamos falando de milho hoje de R$ 100,00 (referência), isso vira um milho de R$ 80 e depois cai mais uns 20%, ficando em torno de R$ 60, se o câmbio ficar onde está e a praça sendo a Campinas.
O real não deveria apreciar muito mais. Se a dívida entrar sob controle e se ela estivesse igual ao que era no passado, a gente teria um câmbio de 4,70, mas como eu acho que isso demora, vai ficar ao redor de 5.
Embora os custos de produção estejam altos, eles vão cair. Quando o preço do grão cai, o adubo vai ceder também. Pode ser que a gente pegue uma transição, por exemplo, quem não comprou insumos vai enfrentar um fósforo 2 vezes mais caro, uma ureia 2 vezes mais cara (em dólar) e vai enfrentar uma colheita que já está passando de 2 vezes.
O que estou vendo hoje é que o custo está em alta e eu tenho um excelente preço lá na frente. No entanto, o produtor não está vendendo, então tem muita gente que vai tomar esse risco de, eventualmente, cair lá na frente.
Existe um risco de algum momento ter uma escorregada, mas o grão caindo é só uma questão de tempo para o adubo e químico cair, fazendo sentido imaginar preços dessa magnitude.
Veja também os episódios do Santa Dica sobre expectativas de logística e fretes e sobre o mercado de sorgo.
Santa Dica
O Santa Dica, podcast semanal de perguntas e respostas da Santa Helena Sementes, convida especialistas experientes do agro para responder dúvidas abordando os temas mais relevantes e debatidos do setor agropecuário, especialmente relacionados às culturas de milho e sorgo.