Já pensou em começar o sistema Santa Fé na sua propriedade ou já faz o sistema e tem dúvidas no manejo?
Afinal, se uma cultura já gera dúvidas, já é possível imaginar os diversos questionamentos que podem aparecer quando temos uma cultura em consórcio com forrageira.
Por isso, para esclarecer e discutir sobre esse assunto, temos nesse episódio o especialista Carlos Eduardo Brasil Gonder. Carlos é engenheiro agrônomo pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul UFMS, com pós-graduação em proteção de plantas pela Universidade Federal de Viçosa UFV.
O que é o sistema Santa Fé?
Quando abordamos o tema integração lavoura-pecuária, consórcio milho-braquiária, sistema barreirão, ou sistema Santa Fé, inúmeras dúvidas começam a surgir.
Porém, todos esses nomes se referem à um mesmo sistema, o qual no ano de 1990 se iniciaram os estudos de desenvolvimento de culturas anuais consorciado com forrageiras.
Esse sistema implantado em diferentes regiões produtoras de grãos e pecuária do Brasil começa a receber suas diferentes denominações.
O consórcio milho-braquiária começa, a partir dessa época, ser praticado em maiores áreas, especialmente onde se cultiva principalmente o milho segunda safra (milho safrinha).
Os objetivos principais naquele momento, e muitas vezes até hoje, eram a recuperação de áreas degradadas e, primordialmente, o fornecimento de palhada para implantação da cultura subsequente, geralmente a cultura da soja ou Sistema de Plantio Direto.
Dependendo da época de semeadura desse milho simultaneamente a forrageira eu consigo colocar o rebanho para pastejo rápido nessa área após a colheita da cultura do Milho, aguardo o rebrote da forrageira e faça dissecação e posteriormente a semeadura da cultura de Verão.
Quais os benefícios do sistema Santa Fé?
Os principais benefícios do consórcio seriam inúmeros, mas irei colocar alguns dos principais aqui:
- Incremento nos níveis de matéria orgânica do solo devido à sua alta taxa de crescimento radicular;
- Produção de massa verde;
- Ajuda na liberação de nutrientes adsorvidos nas partículas do solo pelo seu grande aumento de cargas negativas;
- Supressão de plantas daninhas por abafamento pelo rápido crescimento inicial da parte aérea;
- Descompactação das camadas mais profundas do solo pelo seu incremento radicular;
- Diminuição da temperatura nas primeiras camadas do solo, principalmente nas entrelinhas da cultura evitando a ação direta dos raios solares.
Tudo isso ocorre logo após a sua dessecação e decomposição dessa massa verde.
Também existe o sistema de consórcio de milho braquiária no verão sendo esse milho destinado tanto para silagem ou grãos.
Nesses casos, geralmente as pastagens escolhidas para a implantação de consórcio são de maior resistência ao pisoteio do gado, com maior taxa de rebrota e produção de massa verde em relação a Braquiária decumbens e ruziziensis, as quais hoje são as mais utilizadas no sistema pela sua boa taxa de crescimento e facilidade de manejo.
Um exemplo dessas cultivares de maior resistência seria a Braquiária brizantha (cultivar marandu ou MG4). Importante notar que nesse caso o boi acaba se tornando o principal produto da segunda safra.
Assim, tanto em safra verão ou segunda safra as forrageiras possuem grande importância no sistema de consórcio, com inúmeras empresas de implementos que já se adequaram ao perfil de agricultores pecuaristas que não dispensam plantio consorciado, visando sempre uma otimização de área, tempo e operações.
Como implantar e fazer o manejo desse sistema?
No que diz respeito à implantação e manejo do sistema de consórcio milho-braquiária existem várias versões, mas sempre com os mesmos propósitos: eliminar ao máximo competição inicial das duas culturas, adequar as populações das mesmas, melhorar a distribuição da forrageira por metro quadrado e, sempre que possível, fazer operações simultâneas, diminuindo assim os custos com combustível e hora máquina.
Temos que nos atentar para alguns pontos importantes como, por exemplo, a finalidade da forrageira no consórcio. A forrageira será para cobertura, para recuperação de áreas degradadas ou pastejo?
O espaçamento adotado na cultura do milho é outro ponto de atenção. Espaçamentos reduzidos diminuem mais a competição inicial e temos a melhor distribuição das plantas de milho por metro quadrado.
É importante também pensar no sistema de semeadura da forrageira a ser adotado, sendo que temos algumas opções dependendo da estrutura que o produtor possui:
- À lanço;
- Semeadoras acopladas na frente do trator com faixa de trabalho ajustada para largura da plantadeira de milho acoplada ao engate do trator (única operação);
- Terceira caixa, com implemento modificado que utiliza a velocidade do conjunto trator plantadeira para despejar as sementes à frente do disco de corte da plantadeira do milho;
- Caixa intercalada, com plantios de 45, 50 ou 52 cm de espaçamento entrelinhas, em que uma caixa vai com semente de milho e outra com a forrageira
Além disso, tenha em mente que toda espécie vegetal implantada deve ser tratada como uma cultura, seja ela principal ou secundária.
Se atente para as populações ideais das duas culturas nesse sistema, as braquiárias geralmente sempre são vendidas informando o seu “VC” valor cultural, sendo assim sua regulagem “VC” por hectare, dentro do consórcio ficaria em torno de 240 pontos de “VC” por hectare.
Atenção especial também na semeadura do milho e sobre as principais pragas que porventura possam prejudicar o consórcio, geralmente lagartas e cigarrinhas e nesse caso sempre ficarmos de olho aos níveis de infestação.
Os híbridos de milho mais adequados para o sistema Santa Fé são aqueles com porte médio/alto com rápido crescimento Inicial e formação do dossel das folhas sobre a forrageira, inibindo assim a competição inicial.
Não podemos fazer tantos investimentos com produtos de origem duvidosa com má qualidade. Por isso, se atenha à procedência das sementes, tanto as braquiárias quanto as sementes de milho.
Um pequeno resumo sobre como implantar o sistema Santa Fé seria:
- Qual a finalidade do meu consórcio?
- Qual híbrido devo utilizar?
- Qual forrageira para colocar nesse consórcio?
- Qual meu nível de investimento?
- Tenho equipamentos para implantação?
- Qual minha cultura subsequente?
Podem ocorrer casos de competição entre milho e braquiária?
Não é comum termos muitos problemas, pois é notória a maior taxa de crescimento inicial da cultura do milho pela sua eficiente capacidade fotossintética.
Dessa maneira, o milho suprime a forrageira, limita seu crescimento e diminui a competição inicial por luz, água e nutrientes.
Porém, em alguns poucos casos podem ocorrer uma pequena competição inicial entre as duas culturas, seja ela por erro de população da forrageira ou do milho, estiagem no início do cultivo ou espaçamento inadequado.
No entanto, existem métodos de supressão por controle químico onde podemos utilizar em torno de 25 a 30% das doses recomendadas de bula dos principais graminicidas seletivos ao milho.
Com isso, fazemos um travamento no crescimento e desenvolvimento inicial da forrageira, porém não a eliminamos no sistema.
Santa Dica
O Santa Dica, podcast semanal de perguntas e respostas da Santa Helena Sementes, convida especialistas experientes do agro para responder dúvidas abordando os temas mais relevantes e debatidos do setor agropecuário, especialmente relacionados às culturas de milho e sorgo.