O pulgão é uma das principais pragas da cultura do sorgo e atualmente vem causando prejuízos significativos.
Neste episódio, convidamos o especialista Geraldo Afonso Carvalho Júnior para falar sobre o tema. Geraldo é engenheiro agrônomo e pós-doutor em melhoramento de plantas.
Atualmente, ele é melhorista da Santa Helena sementes e coordena o programa de melhoramento para safrinha nos estados de Mato Grosso e Roraima além de trabalhar com a cultura do sorgo desde 2005.
Na safra anterior vimos altas infestações de pulgão no sorgo. O que podemos esperar para essa safra?
A tendência é de que ainda teremos infestações altas do pulgão de sorgo no Brasil e existem várias razões para isso.
O ponto mais importante de se lembrar agora é que estamos lidando com uma espécie de pulgão cuja variante é nova no Brasil, então o que estamos vivenciando hoje é simplesmente o início da curva de aprendizado de como controlar esta praga.
Dessa forma, aplicar o Manejo Integrado de Pragas (MIP) com a máxima eficiência possível se torna um grande desafio, já que ainda faltam ferramentas.
Primeiro, temos que lembrar que não há 100% de certeza sobre qual variante do pulgão estamos falando.
Vale “abrir parênteses” aqui e ressaltar que resultados recentes de um trabalho que nós conduzimos com USDA nos Estados Unidos indica que se trata do mesmo biótipo presente nas lavouras Americanas desde 2013, ou seja, a espécie Melanaphis sacchari e a linhagem MLLF, mas isso ainda demanda outras confirmações e novos estudos.
Um segundo ponto, é que ainda não existem no Brasil produtos registrados para o controle de pulgão no sorgo. Isso limita muito a eficácia do controle químico que é sem dúvidas o método que nos dá a resposta mais rápida quando o assunto é controle de pragas, especialmente nessa situação que estamos tendo com esse pulgão agora no Brasil.
Terceiro ponto que temos que nos atentar é que, salvo engano, ainda não temos cultivares de sorgo tolerantes ao pulgão no mercado brasileiro, o que também reduz a eficácia de controle do mesmo.
O último ponto é que o nível de controle biológico da espécie que ocorre naturalmente no Brasil e são predadoras desse pulgão, os inimigos naturais de alguma forma, não é suficiente para manter as populações do pulgão em níveis que estejam abaixo do dano econômico.
Em resumo, enquanto não equilibrarmos a eficiência desses quatro pilares e o produtor aprender a biologia e o manejo dessa praga, a tendência é de que ainda veremos infestações altas nos campos de sorgo no Brasil com danos possivelmente significativos.
Para quem já constatou nas safras passadas ou notou pulgões no sorgo agora qual o melhor manejo?
Nesse caso uma vez que a praga foi corretamente identificada na área, o primeiro passo é saber se o campo está em risco e, para isso, precisamos iniciar o monitoramento.
Monitoramento do pulgão no sorgo
O que tem funcionado bem é fazer esse monitoramento uma vez por semana a partir do estádio de 3 a 4 folhas, examinando 15 metros de uma linha de plantio de sorgo na borda e mais 15 metros dessa mesma linha de plantio mais no interior da lavoura.
Se você observar a presença de melado fumagina, é preciso procurar pelo pulgão na parte debaixo das folhas (na parte abaxial), onde encontraremos o pulgão não alado, pois é o ato de crescimento dele. Dificilmente, ou quase nunca, encontraremos esse pulgão não alado na parte de cima da folha.
Além disso, precisamos examinar as folhas baixeiras e mais intermediárias do dossel da planta, fazendo isso em 15 a 20 plantas por sessão dentro do campo, sendo necessárias pelo menos quatro sessões, totalizando 60 80 plantas examinadas.
Um ponto importante é que se você observar no campo a presença do Sorghum halepense (capim-massambará), faça a amostragem nesta planta daninha também, já que ela é uma hospedeira do Melanaphis sacchari .
Se nenhum pulgão for encontrado apenas, ou se apenas os pulgões alados foram observados nas folhas mais altas, apenas continue com o monitoramento uma vez por semana.
Se o pulgão do sorgo foi encontrado nas folhas mais baixeiras ou intermediárias, você deve começar a fazer o monitoramento duas vezes por semana.
Aqui não precisamos contar o número de pulgões, apenas identificar ausência e presença. Porém, quando a presença for identificada, devemos seguir o protocolo de amostragem um pouco mais refinado para definir se o nível de infestação demanda o controle químico.
Como fazer o controle químico do pulgão no sorgo
Infelizmente ainda faltam dados precisos para o Brasil sobre o nível de dano econômico nos nossos campos, já que isso varia muito de região para região e demanda vários estudos científicos.
O que vamos apresentar agora é uma regra prática que tem funcionado bem, mas não é nenhuma recomendação científica, sendo apenas para tentar ajudar o produtor no controle dessa praga.
Devemos examinar o lado de baixo das folhas que estiverem completamente verdes da parte mais baixeira, além das folhas mais novas da planta. Se a planta já estiver emitindo a panícula (fase de emborrachamento) é recomendado fazer essa análise na folha verde mais baixeira e na primeira folha baixa da folha bandeira.
Assim, estimamos o número de insetos, já que normalmente é difícil contar o número exato deles, e anotamos o número de pulgões por folha.
Você pode, por exemplo, examinar duas folhas de cinco plantas que foram selecionadas aleatoriamente uma sessão do campo, ou seja, vamos pegar ali 10 folhas em uma sessão do campo.
Nós vamos fazer isso para quatro seções distintas, totalizando 40 folhas por campo ou por talhão. Assim, calculamos o número médio de indivíduos por folha no campo ou no talhão, que vai ser basicamente o número total de pulgões que você contou, dividido pelo número total de folhas examinadas.
É nesse momento que tomamos a decisão: se a média do campo foi de 50 a 100 ou mais pulgões por folha, você já pode considerar o tratamento químico.
A sugestão é fazer a aplicação do inseticida dentro de 4 dias após essa identificação do monitoramento que foi feito, além de monitorar a eficácia do controle três a quatro dias depois dessa aplicação.
Dessa forma, continuamos o monitoramento das estações do pulgão até a colheita, determinando se são necessárias outras aplicações ou não.
Se a média do campo foi menor que 50 pulgões só continuamos o monitoramento, já que não é preciso iniciar o tratamento químico se a média for de 50 pulgões ou menos por folha.
Além disso, depois que você decidiu que você deve aplicar, precisamos identificar o melhor produto para controle, mas, como comentado anteriormente, hoje não existem produtos registrados para o controle do pulgão em sorgo no Brasil.
A única estratégia viável que a gente pode recomendar no momento é utilizar produtos comerciais já registrados para outras pragas no sorgo que tenham um efeito secundário contra pulgão.
A gente sabe, por estudos internos, que existem alguns princípios ativos que tem uma ótima eficácia de controle, como sulfoxaflor + lambda cialotrina, flupyradifurone, imidacloprid, acetamiprid, e clorpirifós.
É claro que não podemos recomendar nenhum produto comercial porque eles não estão aprovados para o uso de sorgo, mas é uma estratégia que pode funcionar se o produto comercial estiver registrado para outra praga em sorgo e apresentar esses princípios ativos que exibem o efeito de controle, o que seria um efeito secundário nessa nossa estratégia.
Veja também:
Como é o manejo de plantas daninhas do sorgo com o uso do Benefic?
Como melhorar o controle da Spodoptera frugiperda?
Santa Dica
O Santa Dica, podcast semanal de perguntas e respostas da Santa Helena Sementes, convida especialistas experientes do agro para responder dúvidas abordando os temas mais relevantes e debatidos do setor agropecuário, especialmente relacionados às culturas de milho e sorgo.
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