Você sabe toda a importância e como fazer corretamente a área de refúgio na sua lavoura?
A área de refúgio é uma prática essencial para o manejo da resistência de insetos, para a durabilidade das tecnologias e para um Manejo Integrado de Pragas (MIP) bem-feito.
Hoje vamos discutir esse assunto com o Fernando Hercos Valicente, que é graduado em agronomia pela Universidade Federal de Viçosa, mestre e doutor pela Purdue University, pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo há 36 anos e membro da CTNBio.
Qual a importância e como fazer a área de refúgio?
A área de refúgio é uma área extremamente importante dentro do plantio da tecnologia BT especificamente, para evitar a quebra de resistência por parte do inseto em relação à cultura que você tá trabalhando.
Os insetos resistentes numa população ocorrem naturalmente. Por exemplo, vamos supor que depois de amanhã tenha uma cultura que não tem transgênico e passa a ter transgênico.
Naturalmente na população dos insetos teremos alguns resistentes a esse novo transgênico. Fazendo a área de refúgio evitamos a proliferação desses genes de resistência na população.
Então nós vamos ter uma quantidade de insetos suscetíveis que vão cruzar com esses poucos resistentes naturais e esses heterozigotos (resultado do cruzamento) são suscetíveis, ou seja, morrem com a tecnologia Bt.
Isso ocorre até na população humana, como exemplo, em um surto de gripe tem gente que não pega e tem gente que fica de cama.
Portanto, a área de refúgio garante a sobrevivência da tecnologia, porque é uma tecnologia mais cara.
A área de refúgio consiste em você plantar, no caso do milho Bt, uma cultura não Bt que fica 800m de distância no máximo porque essa é a capacidade de voo dos insetos. No milho recomendamos 10% da área, soja e cana ser em torno de 20%.
Você pode fazer essa área de refúgio em faixas, bordaduras, blocos e vários desenhos, sendo que é preciso que a variedade da área de refúgio seja similar (especialmente quanto ao porte e ciclo) ao restante da área.
Se você não plantar o refúgio com uma planta de porte similar não teremos mariposas nas duas áreas ocorrendo concomitantemente para conseguir cruzar e manter essa dinâmica da prole para geração futura, considerando que a lagarta possui em torno de um mês até um mês e meio um ciclo no campo.
Um bom exemplo da importância da área de refúgio é sobre a lagarta-do-cartucho, a qual é extremamente relevante no mundo inteiro e tem até dez ciclos por ano, conseguindo uma capacidade de adaptação muito grande.
Portanto, a área de refúgio mantém um nível de resistência baixo em um nível de suscetibilidade alto.
Além disso, se nós queremos uma tecnologia não podemos quebrar a resistência, como já aconteceu no passado, lembrando que nós somos um país tropical, com várias regiões possuindo três ciclos de cultivos anuais e criando essa ponte verde entre os insetos.
Assim, nós temos a lagarta-do-cartucho atacando, milho, soja, algodão, etc. , temos a lagarta falsa-medideira atacando milho e soja também, ou seja, estamos vendo uma adaptabilidade muito grande. Esses insetos estarão expostos as mesmas toxinas Bt nas plantas, apesar das culturas serem diferentes.
Como fazer o manejo da área de refúgio sem prejudicar seus objetivos?
Não é recomendado fazer aplicação inseticida pesada e manter sua área de refúgio limpa, porque a função dessa área de refúgio é ter um ataque de insetos potencialmente susceptíveis, e se cruzarem com as mariposas que porventura sobrevivam na área de milho BT que possam ser resistentes naturalmente.
Assim, serão poucas lagartas que você vai gerar desse cruzamento, as quais irão morrer com a tecnologia Bt.
No entanto, ressalto que o manejo de pragas pode e deve ser feito, como por exemplo, o tratamento de sementes. O que não recomendamos é a pessoa começar a ver algum ataque e sair jogando inseticida químico indiscriminadamente e querendo manter a área limpa.
Outro ponto que chamo atenção é quanto ao pensamento que muitas vezes vemos de “Eu tenho área de refúgio, então eu tenho uma área perdida”.
Não podemos pensar dessa maneira, sendo que é possível usar o tratamento de sementes, produtos biológicos mais suaves e outros que mantenham mais o equilíbrio, mas de maneira nenhuma deve ser uma “área perdida”.
E sobre a aplicação de produtos biológicos a base de Bt, podemos aplicá-los?
Essa é uma discussão muito grande, com pessoas dizendo que pode e que não pode ser aplicado. Isso porque quando você faz uma planta BT, a clonagem para ter essa planta, temos uma parte de um gene ou de 2 genes.
Já no produto biológico, temos de 6 a 8 genes que vão gerar proteínas completas e que vão estar naquele meio da solução.
Portanto, é uma quantidade muito maior de proteína tóxica que para a academia já foi provado que não teria problema. O que a gente faz é evitar, então por exemplo hoje tem no mercado vários produtos à base de Baculovírus, tanto para a lagarta-do-cartucho, quanto pra lagarta falsa-medideira.
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O Santa Dica, podcast semanal de perguntas e respostas da Santa Helena Sementes, convida especialistas experientes do agro para responder dúvidas abordando os temas mais relevantes e debatidos do setor agropecuário, especialmente relacionados às culturas de milho e sorgo.