Refúgio agrícola é uma parte da área destinada ao cultivo de plantas não-Bt dentro de uma lavoura transgênica.
Neste episódio temos conosco o Prof. Pedro Yamamoto, que explica sobre os benefícios e a melhor maneira de se fazer essa área de refúgio.
Dr. Pedro Yamamoto é professor do Departamento de Entomologia e Acarologia da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, ESALQ/USP
Refúgio agrícola é sinônimo de área perdida?
A área de refúgio agrícola não precisa ser uma área improdutiva, é uma questão conceitual onde, talvez, se torne uma desculpa para não fazer, mas podemos sim usar a produção dessa área.
No entanto, precisamos lembrar que essa área não pode ser intensamente controlada, mas também não pode ficar sem nenhum controle de pragas, o que ocasiona na perda da produção.
Talvez por isso tenhamos a relutância do produtor, que acha que vai perder toda a produção dessa área.
Podemos fazer um controle adequado de pragas para que elas não causem danos severos, mas tolerando um pouco de pragas.
Isso significa que o produtor pode, em determinados momentos, intervir contra essas pragas.
Assim, o manejo nessas áreas pode e deve ser feito, mas, de uma maneira geral, menos rigoroso no controle de pragas.
Isso porque, se a gente controlar todos os insetos pragas, principalmente os lepidópteros que são alvos das tecnologias, a área não vai servir de refúgio. Lembre-se o que é a área de refúgio neste episódio do Santa Dica.
Qual a forma mais adequada de fazer essa área de refúgio agrícola?
Existe uma recomendação em relação à distância entre as áreas, então não podemos pensar em deixar a área de refúgio agrícola somente lá no fundo da propriedade
Isso porque no fundo da propriedade ela não vai servir como área de refúgio agrícola, podendo contribuir para diminuir a resistência próximo à ela, mas não nas outras partes mais distantes.
Então a recomendação correta do refúgio agrícola é que ele aconteça a cada 800 metros, mas podendo ser adaptado de acordo com a área de cada produtor.
Por isso, devemos levar em conta o bom senso e procurar distribuir as áreas na propriedade como um todo e analisar onde melhor alocar as áreas de refúgio agrícola.
Podemos utilizar áreas de pivô para fazer uma parte, faixas ou borda de talhões, então é muito variável. Essa escolha depende muito da observação da conformação da propriedade.
Para o produtor, quais os benefícios de se fazer refúgio agrícola?
O grande benefício que o produtor ganha é a perpetuação e postergação de uma tecnologia, ou seja, ajudar a manter essa tecnologia por mais tempo e absorver o benefício dela.
Lembrando que essas tecnologias estão fazendo com que o produtor use menos inseticidas destinados ao controle de lagartas e, com isso, já podemos ter um maior equilíbrio do agroecossistema.
Dessa maneira, nós vamos sempre utilizando menos produtos químicos para os outros alvos, então é um benefício a longo prazo que nós tem que contar.
Isso significa a redução do número de aplicações contra contra outras pragas, porque assegurar essa estabilidade e perpetuação da utilização dessa tecnologia por muito mais tempo.
Então, nós temos que ter em mente que se não fizermos o refúgio agrícola em pouco tempo os organismos alvos, as lagartas, vão se tornar resistentes.
Além disso, se não tiver uma outra nova tecnologia que vai substituir aquelas que temos hoje teremos que voltar ao sistema tradicional de plantio.
Isso não vai ocorrer de uma hora para outra, perder toda a tecnologia existente no mercado, mas gradativamente podemos perder as tecnologias até um ponto que não funcionará mais.
É obrigatório fazer área de refúgio agrícola no brasil?
Ainda não existe uma lei que obrigue o produtor a fazer o refúgio agrícola no Brasil.
Acredito que se tivesse uma lei ou uma instrução normativa, talvez teríamos uma maior adoção e a preservação dessas tecnologias.
Dessa maneira, infelizmente, não se tem a obrigatoriedade e fica a critério de cada produtor a decisão de plantar o refúgio agrícola ou não realizar a semeadura da área de refúgio.
Então estamos nessa situação e vale a consciência de cada produtor em fazer a semeadura da área de refúgio agrícola para a preservação da tecnologia.
Conclusão
Para finalizar, a resistência de plantas faz parte do programa de Manejo Integrado de Pragas (MIP) e elas devem ser bem utilizadas.
Devemos então, utilizar e integrar com os outras ferramentas para nós termos sempre uma redução dos danos que são ocasionados por pragas.
Santa Dica
O Santa Dica, podcast de perguntas e respostas da Santa Helena Sementes, convida especialistas experientes do agro para responder dúvidas abordando os temas mais relevantes e debatidos do setor agropecuário, especialmente relacionados às culturas de milho e sorgo.