Barter é uma operação financeira já conhecida dos produtores, mas que ainda é confusa para muitos. 

Saiba as principais informações sobre essa operação financeira neste episódio do Santa Dica com Marina Piccini! 

Marina é especialista em Barter, com conhecimentos técnicos e vivência prática em Inteligência de Mercado, Gestão de Riscos, Trading, Planejamento Estratégico e Comercial no agronegócio, além de fundadora da AgroSchool

O que é Barter? 

Barter é uma das ferramentas que ajuda na gestão e mitigação de riscos. É uma operação já tradicional e conhecida e do mercado. 

Barter nada mais é que o produtor poder comprar os seus insumos, como fertilizantes e defensivos, através das distribuidoras e revendas (ou até mesmo através da indústria), geralmente a prazo, e pagando com a sua produção (de milho, soja, etc). 

O Bater já é presente no nosso agro pelo menos desde quando surgiu a CPR em 1994, ou seja, já tem uma tradição no nosso setor. 

Hoje se utiliza o Bater não apenas para os insumos, mas também veículos, equipamentos e outros. 

Essas operações de Barter oferecem uma série de vantagens, tanto para a empresa que oferece quanto para o produtor que opta.  

Não é à toa que o Barter vem crescendo, seja em anos de maior turbulência, como esse que a gente está vivendo agora, quanto tem anos mais estáveis. Essa operação já se comprovou com o tempo como sendo uma boa ferramenta para os diferentes lados da negociação. 

Quais as vantagens e os riscos que o produtor pode ter com o Barter? 

O Bater é uma ferramenta de gestão de riscos, mesmo que às vezes possamos ver ele no mercado sendo mostrado como uma ferramenta de financiamento dos seus produtos a prazo. 

O Barter consegue amarrar 3 variáveis que se traduzem na volatilidade. Ele ajuda a reduzir a volatilidade de preços, lembrando que aqui estamos falando de commodities, sendo que vemos essa volatilidade nas bolsas de valores com grande oscilação em um curto espaço de tempo. 

Por exemplo, estamos em meio a toda essa discussão da guerra entre Rússia e Ucrânia, então há uma expectativa muito grande do mercado: será que lá na Ucrânia eles vão conseguir ter uma boa produção de milho? Como é que isso vai impactar no mercado exportador? Como é que vai abastecer a região do leste Europeu e Ásia? E que impacto isso vai nos trazer?  

Isso faz com que o mercado fique mais nervoso, justamente porque ele não consegue antecipar o desfecho dessa situação, influenciando no preço da commodity, na cotação do câmbio e, consequentemente, no preço dos insumos. Por exemplo, agora com essa guerra já estamos percebendo o aumento dos preços de insumos.  

Como Barter, através da relação de troca,  o produtor conseguir se planejar e já conseguir travar pelo menos parte do seu custo de produção em um nível que ele enxergue como seguro. 

Assim, o ideal é que o produtor tenha um histórico dos últimos anos ou safras, em que ele possa comparar quanto que foi o preço do insumo que ele pagou versus o preço da commodity que ele negociou. Com isso, o produtor vai chegar numa continha de quantas sacas ele utilizou para produzir. 

Então ele vai comparar: se eu gastei no ano passado 30 sacas por hectare para determinada quantidade de produto, esse ano (pela relação de troca) está me custando mais, por exemplo, está me custando 35 sacas. 

No entanto, obviamente, como toda operação e ferramenta, ela tem as suas vantagens e desvantagens. 

Muitas vezes o produtor vai se comprometer com um volume maior do que deveria e se houver alguma dificuldade ele não consegue honrar seus compromissos. 

Agora no sul do país vimos uma seca muito forte, com uma quebra muito grande de safra e às vezes os produtores da região não conseguem cumprir com todos os compromissos assumidos. 

Por isso ressalto que se for fazer Barter veja a relação de troca, verificando se ela está dentro dos níveis que atenda a necessidade e que traga uma segurança para a operação.  

O ideal também é ir “picando” isso ao longo do tempo. Ou seja, à medida em que vai avançando no plantio e no desenvolvimento da sua lavoura você vai percebendo se de fato vai conseguir atingir a produtividade esperada e assim vai se comprometendo mais, até chegar na época da colheita e já estar com boa parte dos seus custos travados. 

É dessa maneira que podemos ter uma sobra da sua produção em níveis melhores, aumentando sua rentabilidade. 

Em geral, o Barter é uma excelente ferramenta. O produtor que ainda não fez essa operação deveria pelo menos fazer experimentar e aquele que já fez, revisitar, fazer novas contas e enxergar aí uma boa oportunidade. 

Como começar a fazer Bater com lucratividade? 

Primeiro vamos entender alguns princípios básicos de finanças. Para eu poder saber o quanto é que eu posso melhorar em termos de lucratividade, de rentabilidade no meu negócio, eu preciso conhecer os números do meu negócio. 

O produtor, ao longo dos anos, foi se tornando cada vez mais especialista em melhorar no manejo, no trato cultural e aumentar as produtividades, mas o escritório acabou ficando um pouquinho para trás. 

E isso não ocorreu porque não quisesse cuidar dos números, mas muitas vezes porque não tinha tempo ou não foi ensinado ao produtor. 

O tema finanças, nem que seja finanças pessoais, ainda é um tabu. Isso começa a ser um dificultador ainda maior considerando que a maioria das propriedades rurais do Brasil são familiares e, muitas vezes, a gente não fala de dinheiro nesse cenário, e quando fala é complicado. 

Então, o negócio agrícola às vezes padece desse conhecimento para poder lidar melhor com os números. 

Por isso, para saber a lucratividade eu preciso entender quanto que ele está gerando de resultado operacional no negócio dele. 

O resultado operacional é o coração do negócio: é quanto o produtor está gerando de resultado da atividade que ele faz. 

É uma conta simples, em que precisamos considerar quanto que a fazenda está fazendo de receita no ano, ou seja, quanto que é a área versus a produtividade versus do preço que o produtor está negociando aquela produção e deduzir todos os custos de produção que o produtor tem, subtraindo também as despesas gerais. 

Lembre-se de contabilizar todas as despesas de água, luz, escritório, arrendamento e outros. Fazendo essa continha, chegamos no resultado operacional. 

Depois disso temos que deduzir também as despesas de juros, impostos e outras despesas financeiras e só neste momento que chegamos na lucratividade

Quando chegamos na parte de despesas financeiras, isso vêm de outra conta que precisamos fazer que é o relatório de Balanço. Embora não seja exigido o Balanço do produtor pela legislação brasileira, é interessante que o produtor entenda pelo menos o que tem nesse relatório. 

O Balanço é uma excelente ferramenta de gestão do negócio dele, porque nele conseguimos enxergar tudo o que o produtor tem, tudo o que deve e o quanto que ele tem dentro do seu negócio. 

Dentro de tudo o que ele deve estão ali justamente as operações de Barter. Então, se o produto tiver esse “mapa” ele consegue calibrar e verificar se está fazendo mais ou menos Barter do que deveria, ou seja, se está assumindo dívidas maiores do que pode pagar e o quanto isso está refletindo dentro da lucratividade do negócio. 

Então, para fazer Barter bem-feito e com lucratividade são 2 dicas que eu posso dar para vocês aqui. 

Primeiro de tudo, enxergue a relação de troca para você poder saber se aquilo que a empresa está propondo para você é interessante. Sem dados, sem métrica, sem informação, a gente não consegue saber se está bom ou ruim. 

E não adianta pegar a métrica do vizinho ou só os dados do mercado. Isso serve como uma referência, mas cada negócio é diferente. 

A segunda dica é enxergar dentro do negócio como um todo. Verifique se o Barter está complementando bem o seu negócio: está impactando na minha lucratividade ou não? Como é que eu combino isso com as outras alavancas dentro do meu negócio para ter equilíbrio financeiro? 

Com essas duas dicas começamos a trabalhar e vemos os resultados de uma boa gestão. 

Veja também:
Como minimizar custos e expectativas da logística?

Santa Dica

O Santa Dica, podcast de perguntas e respostas da Santa Helena Sementes, convida especialistas experientes do agro para responder dúvidas abordando os temas mais relevantes e debatidos do setor agropecuário, especialmente relacionados às culturas de milho e sorgo.

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