Sequestro de carbono T.3 Ep.18

Podcast 61

Ouvir Podcast

Sequestro de carbono é um tema bastante atual e está cada vez mais presente no campo, principalmente porque, além de contribuir com o meio ambiente, em um futuro próximo poderá ser uma fonte extra de renda para os produtores. 
 
Por isso, convidamos o especialista Prof. Maurício Cherubin para falar sobre estratégias de sequestro de carbono e tirar as principais dúvidas dos produtores. 

Professor Dr. Maurício Cherubin é Administrador, Engenheiro Agrônomo, Mestre em agronomia, Doutor em ciências (Solos e Nutrição de Plantas), Pós-doutorado no Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA) – Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, Professor do Departamento de Ciência do Solo – ESALQ-USP, lecionando e pesquisando nas áreas de Manejo do Solo, Qualidade do Solo e Serviços Ecossistêmicos, e Sequestro de Carbono. 

Por que é importante falarmos de sequestro de carbono no solo em áreas agrícolas?  

Estamos num momento de emergência climática e percebendo que clima está variando de forma mais intensa e frequente nos últimos anos. 

As estiagens são mais frequentes e longas, há excesso de chuva em outras regiões e ocorrência de geada em outras onde não era comum ocorrer. Isso está acontecendo no mundo todo e já foi provado.  

O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas aponta em seus relatórios que o homem tem causado alterações no clima de forma generalizada em todo o mundo e o Brasil não fica de fora. 

Nós estamos na década da ação e até 2030 nós temos que, de alguma forma, tentar reverter esse processo. E que processo é esse? 

As mudanças climáticas estão ocorrendo em função do excesso ou do aumento das emissões de gases do efeito estufa, sendo que os 3 principais gases são o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4) e o óxido nitroso (ON2). 

Esses gases são emitidos nos diferentes setores da nossa economia incluindo a agricultura, de maneira mais intensa nos últimos 150 anos, e fazendo com que a concentração na atmosfera aumentasse gerando um aquecimento maior do que é o natural. 

O aquecimento global é uma realidade, temos um aumento comprovado de cerca de 1.1°C em média no clima. Parece pouco, mas é uma média global e em algumas regiões têm aumentado mais, como na América, e outras regiões tem aumentado menos. 

Frente a isso, temos uma série de iniciativas e compromissos internacionais como acordo de Paris que foi assinado em 2015, em que os países como o Brasil se comprometeram a limitar o aumento da temperatura idealmente a 1,5°C. 

Existem duas formas de fazer isso. Temos que aumentar o sequestro de carbono em algum lugar que não seja a atmosfera e reduzir as emissões de gases através de melhores práticas de manejo pensando na agricultura para aumentar a captura de carbono da atmosfera.  

E quem faz isso? As plantas através do processo de fotossíntese, em que capturam CO2 e transformam em composto orgânico de diferentes constituições (que depois é sequestrada no solo). 

Vários setores conseguem reduzir as emissões, por exemplo as indústrias utilizando carro elétrico ou híbrido para reduzir a queima de combustível fóssil. Mas de todos os setores, a agricultura é a protagonista para captura de carbono e armazenamento no solo.

Por isso falar de sequestro de carbono em áreas agrícolas é fundamental e fundamental também é falar disso no Brasil, afinal somos protagonistas a nível mundial pela agricultura e potencial agrícola. 

Então, se tiver alguma região ou país que deve falar sobre esse assunto na agricultura este país é o Brasil. 

Por tudo isso, é superimportante falarmos de assunto, especialmente nesse momento em que é crucial encontrar soluções para sequestrar mais carbono, seja na vegetação ou no solo. 

Por que incluir o cultivo de milho no sistema de rotação de culturas é uma estratégia importante para acumular carbono no solo? 

O milho é uma cultura super relevante e deve ser incluída no sistema de rotação, porque tem características que se diferem de outras culturas, como por exemplo, a soja. 

O milho é uma gramínea que produz muita biomassa, muita palhada de parte aérea e também tem um sistema radicular diferente da própria cultura da soja – que é a principal cultura em termos de área no país. 

Enquanto a soja tem um sistema radicular menor e pivotante, o milho tem um sistema radicular abundante, mais rigoroso e fasciculado.  

O grande aporte de palhada em um sistema radicular com volume maior é fundamental para que ocorra a captura de carbono via fotossíntese e acumulação desse carbono no sistema a partir da decomposição da palhada e do próprio sistema radicular. 

É diferente de uma cultura como a soja que tem um aporte de palhada muito pequeno com 2 e 3 toneladas, enquanto o milho tem condições de aportar um volume em até 3 vezes maior que isso. 

Então, se estamos pensando em estratégias para acumular carbono, o milho necessariamente tem que entrar no sistema de rotação. 

Quantas vezes ele tem que entrar? Depende da região, do sistema de produção e do esquema ou do plano de rotação que o produtor está utilizando. 

Normalmente, na região sul do país indicamos que pelo menos 1 em cada 4 anos seja cultivado com milho, isso dá uma média de 25% da área todo ano sendo cultivada com milho fazendo a rotação. 

Na região mais central do Brasil, no cerrado, o milho pode entrar todo o ano no cultivo de segunda safra ou safrinha, assim há uma possibilidade ainda maior de acumularmos carbono no sistema, porque além da cultura de safra – que normalmente é a soja – todo o ano conseguimos fazer um milho safrinha que condiciona esse aporte de biomassa adicional. 

Além disso, o próprio fato da cultura do milho ser adaptada particularmente no cerrado ao cultivo de segunda safra, depois de uma cultura em safra, permite que na mesma área se tenha mais uma opção de renda, de produção e também de acúmulo de carbono solo. 

O milho gera uma oportunidade de você fazer um consórcio com alguma forrageira, por exemplo, com a braquiária e fazer um sistema de integração como o lavoura-pecuária. 

Essas são uma das estratégias mais modernas e intensivas de diversificar o sistema, produzir grão e carne e realizar um sequestro de carbono maior. Eventualmente, lá na frente, você pode receber por isso. 

Um produtor que deseja aumentar os teores de carbono no solo (teores de matéria orgânica) e sequestrar mais carbono deve necessariamente incluir o milho no sistema de rotação.  

A cultura do milho é fundamental e uma peça-chave para nós termos sucesso nessa equação de entradas e saídas de carbono no sistema. 

O produtor deve esperar receber pela venda de créditos de carbono já na próxima safra?  

Essa é uma questão muito importante. Todos estão ansiosos por começar a receber créditos de carbono. 

É um tema muito debatido nos últimos tempos e se tem muitas dúvidas, dentre elas como entrar neste mercado.  

Infelizmente ainda não é na próxima safra que vamos começar a ganhar dinheiro com o crédito de carbono, mas daqui 2, 3 ou 4 anos isso vai se tornar uma realidade e não somente para grandes produtores. 

Os produtores médios e pequenos também poderão entrar nesse mercado, há espaço para todos. 

O Brasil deve ser protagonista nessa agenda e a agricultura deve ser parte da solução desse problema de mudanças climáticas, então com certeza temos uma oportunidade gigante em termos de emissão de créditos de carbono, venda desses créditos e obtenção de renda. 

Por que não vai ser nessa safra talvez nem em 2023? Porque ainda estamos construindo os instrumentos legais de regulação desse mercado no Brasil. 

Há pouco tempo foi lançado o primeiro decreto que regulamenta o mercado de carbono no Brasil sendo uma primeira tentativa ao mercado voluntário que está ocorrendo de forma específica em alguns projetos nesse momento, mas ainda precisamos avançar nessa estrutura legal e econômica de como esse mercado vai funcionar. 

Além disso, todos os protocolos de monitoramento do carbono no solo de comunicação desses resultados e de verificação – no inglês MRV – foram desenvolvidos para outras regiões do mundo, particularmente para a região de clima temperado, Estados Unidos e Europa. 

Nós precisamos adaptar essas metodologias e esses protocolos para utilizar no Brasil que predominantemente é um país tropical e a dinâmica funciona de maneira diferente. 

São outros solos, climas, potencial de sequestro de carbono e planos de rotação de culturas, então nós precisamos de algo regionalizado para que o Brasil tenha confiança ou para que esses protocolos permitam ter dados com grande assertividade. 

O mercado de carbono é um o mercado de confiança, o comprador tem que ter confiança que aquele crédito efetivamente seja concreto e viável. 

Além disso, o alto custo ainda é uma barreira no processo de amostragem de solo, como a coleta amostra, envio ao laboratório, analise do teor de matéria orgânica ou de carbono. 

Toda essa logística ainda é um pouco complicada e também o custo de fazer um projeto que vai gerar créditos lá na frente. 

Nós temos que baratear isso de alguma forma e a forma mais viável é através de estudos como nós estamos fazendo nas universidades, na própria Embrapa, e uma série de outros atores que tem investido em tecnologias alternativas para conseguir baratear isso nos próximos anos. 

Para não ficar só nas notícias desanimadoras, eu confio plenamente que nós temos um potencial enorme nessa agenda nos próximos anos. 

Há uma demanda muito grande por créditos de carbono que hoje ainda não se tem condições de ofertar para o mercado, então há uma perspectiva que nos próximos anos isso avance de maneira muito mais rápida. 

Para os próximos anos, o produtor pode considerar isso como uma eventual fonte de renda. Ele terá o cultivo de soja, de milho e de outras culturas, e também uma renda extra a partir da venda de créditos de carbono por um manejo bem-feito na propriedade. 

Se o produtor fez um bom plano de rotação de cultura, incluiu plantas de cobertura no sistema e fez um sistema plantio direto bem-feito, o produtor será certificado e vai emitir créditos de carbono, sendo que cada crédito de carbono significa 1 tonelada de CO2 (dióxido de carbono) evitada e certificada. 

Neste momento ainda não, mas as perspectivas são muito positivas para que o produtor de fato se beneficie com isso nos próximos anos.

Eu sinceramente acredito que a agricultura vai contribuir muito nessa agenda climática de forma positiva e o Brasil é, sem dúvida, um dos principais atores nesse processo. 

Nós temos um potencial agrícola fantástico. Hoje, não devemos pensar em aumentar o carbono do solo. 

Temos que trabalhar com práticas de manejo, com a introdução da cultura do milho dentro de um sistema de rotação e de outras práticas conservacionistas, pensando em aumentar os teores de matéria orgânica e de carbono e visando aumentar a produtividade das culturas. Então, nesse contexto o aumento de carbono no solo vai ser uma consequência de um manejo bem-feito e de agricultura bem feia. 

A partir de um aumento de produtividade que nós tivermos por uma melhoria de manejo e um aumento da matéria orgânica e do carbono no solo, teremos uma melhor retenção de água, ciclagem de nutrientes, vamos proporcionar um melhor equilíbrio biológico e estruturação do solo.

São muitas vantagens e a planta também vai se beneficiar, aumentar a produtividade e a receita.  

O sistema e a lavoura vão se tornar menos vulneráveis e vamos teoricamente ter uma estabilidade de produção melhor. É assim que o produtor vai ganhar com essa estratégia. 

Eventualmente nos próximos anos todo esse investimento técnico e até mesmo financeiro para melhorar as condições de manejo podem ser remuneradas ou valorizadas na forma de créditos de carbono e o produtor pode ter uma renda adicional a partir da venda desses créditos. 

Temos que focar na produtividade do sistema da maneira mais sustentável possível tentando tornar o mais eficiente e no futuro podemos contar com esse crédito de carbono que vai ser um adicional a mais na nossa renda. 

Estou à disposição para tirar as dúvidas e universidade de São Paulo, ESALQ, aqui em Piracicaba está com as portas abertas. Nós temos um grupo de pesquisa na ESALQ chamado SOHMA, grupo de manejo de qualidade do solo, acesse aqui para conhecer os nossos projetos. 

Santa Dica

O Santa Dica, podcast de perguntas e respostas da Santa Helena Sementes, convida especialistas experientes do agro para responder dúvidas abordando os temas mais relevantes e debatidos do setor agropecuário, especialmente relacionados às culturas de milho e sorgo.

Veja também os episódios do Santa Dica Como fazer a adubação de nitrogênio no milho? e Como fazer adubação de potássio no milho para altas produtividades? 

Inicie uma discussão

Inscreva-se

Posts Recentes

Podcast 61