Nematoides no milho T.3 Ep.19

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Nematoides podem se tornar uma praga que muitas vezes não é percebida pelo produtor e que causa danos nas lavouras de milho e perda na produtividade. Como é um assunto importante a ser discutido convidamos o Prof. Dr. Fernando Godinho para falar sobre esse assunto. 

Prof. Dr. Fernando Godinho possui graduação em Agronomia pela Universidade Federal de Goiás (2007), mestrado (2009) e doutorado (2013) pelo Programa de Pós-Graduação em Agronomia pela Universidade Federal de Goiás.  

Atualmente é docente efetivo do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano – Campus Urutaí.  Ocupa o cargo de 1° Tesoureiro da Sociedade Brasileira de Nematologia (2020-2022). Desenvolve pesquisas na área de fitossanidade, manejo integrado de nematoides e aproveitamento de resíduos agroindustriais. Atua na inovação tecnológica, principalmente no desenvolvimento de novas moléculas e produtos biológicos voltados para o manejo de nematoides na agricultura. 

Como perceber se na minha lavoura de milho tem nematoides? 

Os sintomas variam muito em função da espécie de nematoides presentes na área, da textura de solo e também do manejo que já vem sendo adotado pelo produtor. 

Na cultura do milho essa sintomatologia, ou seja, esses sintomas básicos do ataque de nematoide muitas vezes são mascarados. 

Não conseguimos visualizar os sintomas na parte aérea da planta e, com isso, muitas vezes passa desapercebido pelo produtor os danos que os nematoides vêm provocando na área, mas dependendo da situação, alguns sintomas são perceptíveis.  

São característicos do ataque de nematoide no milho a presença de reboleira, manchas com plantas com crescimento reduzido, com porte menor e muitas vezes acompanhado de clorose internerval. 

Além disso, ao final do ciclo da cultura conseguimos perceber o rendimento reduzido nas áreas com alta infestação de nematoides. 

Eu sempre recomendo que o produtor tenha uma amostra dessa área para levar à uma diagnose para a partir daí detectar a presença ou ausência das espécies de nematoides na área. 

Em qualquer propriedade sempre teremos nematoides, porque são habitantes naturais dos solos. A grande questão, do ponto de vista econômico, é como a população de nematoides se comportará frente ao sistema produtivo adotado. 

Por isso, é muito importante reconhecer essas espécies e a densidade populacional para conseguir traçar um plano de manejo

Quais os principais nematoides que causam problema no milho? 

Se formos pensar nos nematoides que afetam a cultura do milho, temos mais de 50 espécies que podem estar associadas a essa cultura, mas nós temos algumas espécies que predominam nessas áreas cultivadas. 

Existem 2 espécies do gênero Meloidogyne,- comumente chamado de nematoide das galhas – Meloidogyne javanica e Meloidogyne incognita. Esses 2 nematoides estão muito associados à cultura do milho e vemos muitos danos provocado por esse gênero. 

Temos também o nematoide das lesões radiculares do gênero Pratylenchus, sendo duas principais  espécies o Pratylenchus brachyurus e o Pratylenchus zeae. 

Se formos pensar em distribuição no cerrado, Pratylenchus brachyurus é o que a gente tem a maior presença quando comparado com o Pratylenchus zeae.  

Além desses, o Helicotylenchus também pode estar muito associada à cultura do milho. 

Portanto, de uma maneira geral temos o nematoide das lesões radiculares, principalmente o Pratylenchus brachyurus, e o nematoide das galhas, Meloidogyne javanica e Meloidogyne incognita. 

Como fazer o manejo de nematoides no milho?  

O primeiro passo para estabelecer um programa de manejo é avaliar quais são as espécies de nematoides presentes na área.  

O processo de amostragem e diagnose deve ser o primeiro ponto para estabelecer um programa de manejo. Este, por sua vez, não deve ser específico para a cultura nem a safra que está sendo implantada. 
 
O programa de manejo deve ser em função do sistema produtivo. Temos que ter conhecimento da cultura que vai preceder e suceder o milho para conseguir traçar um programa de manejo e o programa de manejo perfaz todas as culturas que entram naquela área, isso é o ponto principal.  

Tendo essas informações e sabendo quais são as espécies presentes na área podemos considerar 4 pilares básicos para o manejo dos nematoides. 

1 – Controle cultural 

O primeiro pilar que deve ser a base de qualquer programa de manejo é o controle cultural, que nada mais é a do que a utilização de técnicas de cultivo com o intuito de reduzir a multiplicação do nematoide no milho. 

Pode ser desde a escolha espécie para entrar em sucessão ou rotação com a cultura do milho até mesmo o consórcio focando na redução populacional desses nematoides. 

O controle de plantas daninhas também é muito importante. A principal manutenção, principalmente de nematoide das galhas e Pratylenchus na área, acaba sendo através da multiplicação e da sobrevivência nessas plantas daninhas.  

Sabemos hoje que trabalhar com plantas de cobertura também é de fundamental importância para termos um sistema produtivo saudável com uma boa condição para receber os agentes de controle biológico e para desfavorecer o desenvolvimento do nematoide no milho. 

Aliada ao controle cultural, nós temos ainda 3 técnicas de controle com alternativas que veremos a seguir. 

2 – Controle genético 

O controle genético é quando temos a disponibilidade de materiais híbridos de milho que tenham resistência ao nematoide e com isso conseguimos reduzir a sua multiplicação, por exemplo. 

Quando falamos de Meloidogyne javanica e Meloidogyne incognita, nós temos alguns híbridos de milho que possuem resistência a uma espécie ou a outra.  

Já com relação ao Pratylenchus brachyurus é um pouco mais complicado, porque temos apenas materiais com um fator de reprodução um pouco menor e não genéticas com resistência. 

Portanto, a partir do momento que conhecemos a espécie presente, a resistência também pode ser uma alternativa empregada para o manejo do nematoide. 

3- Controle químico  

O controle químico é baseado na utilização de moléculas ou produtos sintéticos com a função de proteger o sistema radicular dessas plantas principalmente nessa fase inicial de desenvolvimento. 

Temos cerca de 5 moléculas que podem ser divididas em 4 grupos ou formas de atuação perante o nematoide que podem ser empregadas. 

Essas moléculas possuem um residual relativamente curto, sendo que o residual de uma molécula química é em torno de 15 a 20 dias, e a partir daí o nematoide começa a parasitar esse sistema radicular e consegue retomar a sua reprodução. 

Ou seja, é uma proteção inicial no momento em que a planta mais precisa de cuidado. 

Uma planta que consegue ter um bom estabelecimento inicial desse sistema radicular acaba resistindo melhor ao ataque de nematoide. 

Sendo assim, nós damos condição para que essa planta se desenvolva ao longo de todo o seu período vegetativo e reprodutivo em função dessa proteção inicial que nós proporcionamos e o controle químico se baseia nessa premissa. 

4- Controle biológico 

Hoje temos mais de 50 produtos disponíveis a base de fungos e bactérias que podem ser empregados na cultura do milho. 

Diferente dos produtos químicos, um produto biológico tem registro para o organismo alvo. Então, por exemplo, um produto que tenha registro para a Meloidogyne javanica e Meloidogyne incognita ou mesmo para Pratylenchus brachyurus, independente da cultura que ele esteja infestando podemos empregar agentes de biocontrole. 

Os principais fungos disponíveis no mercado são Pochonia chlamydosporia e Purpureocillium lilacinum, além do Trichoderma harzianum e o Trichoderma endofítico
 
Quando falamos das bactérias, nós temos as rizobactérias que perfazem um grande grupo que está associado aos nematoides que parasitam a cultura do milho. 

Hoje, vejo que essa gama de produtos biológicos disponíveis do mercado veio facilitar e aumentar muito essa alternativa de manejo. 

Temos que pensar que o controle biológico utiliza um organismo vivo com o intuito de proteger essa rizosfera ou mesmo de reduzir o parasitismo do nematoide em função de um parasitismo direto, ou seja, parasitando os ovos ou mesmo essa fêmea adulta do nematoide.  

Com isso reduzimos essa população, mas lembre-se que estamos trabalhando com organismos vivos e precisamos ter condições para que esses microrganismos se desenvolvam nesse solo. 

Mas qual é a condição para que o microrganismo se desenvolva no solo? 

Temos 2 pontos principais: matéria orgânica e umidade. Sem matéria orgânica e sem umidade o controle biológico não atinge ou não entrega o que esperamos. 

O controle biológico é uma excelente alternativa que pode e deve ser associado com aqueles outros 4 pilares desde que tenha condição para que esse agente de biocontrole se desenvolva. 

A própria cultura do milho é muito benéfica e propícia para que a gente utilize esse biológico em função do aporte de palha que nós temos para o sistema e, principalmente, pelo processo de consórcio que nós estamos conseguindo fazer com o milho. 

Cada vez mais é comum consorciar o milho com braquiária e também crotalária, que está entrando nesse processo de consórcio. 

Além de termos um melhor aporte de matéria orgânica nesse solo, ajuda também a criar um microclima favorável para o desenvolvimento desses agentes de biocontrole. 

Conclusão 

As técnicas ou métodos de controle que temos hoje para manejo de nematoides na cultura do milho são: a resistência genética; o controle cultural, que são as técnicas de cultivo que nós utilizamos com o intuito de reduzir a população do nematoide; o controle químico, que é a utilização de produtos sintéticos para proteger o sistema radicular e reduzir a penetração dos nematoides; e o controle biológico, que é utilização dos agentes de biocontrole com intuito de proteger essa rizosfera e assim a gente conseguir reduzir a população desse nematoide. 

É importante ressaltar que o milho é de fundamental importância para manejo de outras espécies de nematoides que entram no nosso sistema produtivo ou que afeta outras culturas que estão no nosso sistema produtivo. 

Um exemplo é o nematoide de cisto da soja. Hoje o milho é uma das principais culturas que podem ser empregadas visando a redução da população do nematoide de cisto, Heterodera glycenes. 

Aliado ao Heterodera glycenes, nós temos uma outra espécie de nematoide que tem crescido muito em população, a Rotylenchulus reniformis, e o milho também entra como uma excelente alternativa para a redução populacional desta espécie. 

Precisamos nos preocupar com as espécies que multiplicam na cultura do milho, mas também temos que pensar na importância que o milho traz para o sistema produtivo sendo utilizado como fonte ou como alternativa de manejo para essas 2 espécies de nematoides. 

O Aphelenchoides besseyi, nematoide que causa haste verde, não se multiplica na cultura do milho, por isso quando fazemos a introdução desta cultura nós também temos uma redução populacional desses nematoides. 

Gostaria de finalizar deixando claro que que não existe um programa padrão para manejo de nematoides, não temos uma técnica padrão nem uma solução única.  

O manejo de nematoides é muito particular e vai depender da área onde cultivamos, área, sistema produtivo, população de nematoides e textura de solo e, a partir do momento que nós conhecemos tudo isso, conseguimos traçar um programa de manejo mais um padrão. 

Para quem quiser encontrar o Prof. Fernando Godinho no Instagram é @fernando.godinho e do laboratório que ele coordena é @labmin_oficial .

Santa Dica

O Santa Dica, podcast de perguntas e respostas da Santa Helena Sementes, convida especialistas experientes do agro para responder dúvidas abordando os temas mais relevantes e debatidos do setor agropecuário, especialmente relacionados às culturas de milho e sorgo.

Veja também os episódios do Santa Dica sobre Fumagina no milho e Mancha-branca no milho. 

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