Dúvidas sobre as condições climáticas neste ano de 2022?
Neste episódio trouxemos o professor Fábio Ricardo Marin que mostra as principais tendências e previsões para o ano, considerando safra e safrinha.
Fábio Ricardo Marin é engenheiro agrônomo, mestre e doutor pela Esalq/USP, pós-doutor pela Universidade da Flórida e pela Universidade de Nebraska-Lincoln. Atualmente professor na área de agrometeorologia e modelagem agrícola pelo Departamento de Engenharia de Biossistemas da ESALQ/USP.
Quais são as projeções de condições climáticas para a safrinha 2022?
As tendências que temos nos modelos para os meses de março, abril e maio, é que as condições não devem se alterar fortemente.
Pra o mês de março, os dois modelos que usamos aqui não são convergentes, o que significa que existe uma incerteza grande na previsão.
Um desses modelos indica volta da chuva no Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina, enquanto o outro mantém a tendência que estamos vendo desde o ano passado na região Sul, que é escassez hídrica.
Ainda nesse segundo modelo, a previsão é de chuvas acima da média nas regiões Norte, Centro-Oeste e boa parte do Nordeste. Dentro dessa previsão o Sudeste ficaria na zona de transição, especialmente na região do meio de São Paulo e Mato Grosso do Sul, sendo que na parte norte teríamos um pouco mais de água e na parte sul faltaria água.
Na nossa visão essa condição deve permanecer, o que mantém a preocupação para os produtores de soja e de grãos, já que (de uma maneira geral), temos menos chuvas no Sul e parte de São Paulo.
No Centro-Oeste as condições são boas e devem permanecer assim., caracterizando boas condições para o milho safrinha que está já em fase final de semeadura em grande parte do Centro-Oeste.
E quais as previsões para a safra verão 2022?
Infelizmente temos uma dificuldade muito grande para fazer previsões de longuíssimo prazo, como é a safra verão 2022.
O que podemos falar, e que talvez traga uma indicação do que vai ocorrer, é sobre a La Niña. Nesse caso também temos dois modelos que não convergem.
O primeiro modelo indica que a La Niña se encerra entre junho e julho. O segundo modelo já indica que ela pode se estender até a primavera de 2022.
Se a La Niña permanecer temos que manter o estado de preocupação de que a as chuvas podem continuar ruins no Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina.
No entanto, se ela realmente terminar no meio de 2022 a safra de verão será de neutralidade no oceano pacífico, que é quem regula esse fenômeno La Niña, fazendo então com que tenhamos mais chuvas no Sul e, portanto, uma safra melhor.
Como ficam as condições climáticas ainda deste ano para o plantio de inverno?
Sobre as culturas de inverno na região sul do país é parecido com o que acabamos de comentar sobre as condições de La Niña que comentamos anteriormente,
La Niña deve permanecer pelo menos até junho e, portanto, temos uma preocupação para esses produtores das lavouras de inverno já que isso deve reduzir o volume de chuvas no Sul do país.
Assim, os produtores deveriam agir com bastante prudência em termos de investimento e talvez ter bastante cautela nessas lavouras de inverno, porque pode ser que as condições permaneçam.
Outro ponto relevante é lembrar que as chuvas no Rio Grande do Sul, boa parte de Santa Catarina e do sul do Paraná não sofrem com a estiagem o inverno como é comum no restante do Brasil.
Ou seja, a chuva permanece e a evapotranspiração, que representa o consumo hídrico das plantas, acaba sendo reduzida por conta da queda da temperatura e acaba até sobrando água.
Por isso, é importante alertar que, talvez mesmo com chuvas abaixo da média que são condições típicas de La Niña, a gente ainda possa ter boas condições para essas culturas de inverno no Sul do Brasil.
De qualquer maneira, é muito importante que os produtores estejam atentos à previsão do tempo. Verifiquem a previsão estendida, 15 ou 20 dias. Já que ela tem uma coerência, uma assertividade, maior.
Entenda mais sobre a La Niña e sua influência nas condições climáticas de 2022
A La Niña é causada quando as águas do oceano pacífico, na zona Equatorial próximo ao Peru, ficam com temperaturas abaixo da média, sofrendo um resfriamento.
É normal que esse resfriamento das águas do pacífico acabe interferindo no volume de chuvas aqui do país.
Com isso, temos redução das chuvas no Sul, aumento das chuvas do Norte, Nordeste e Centro-Oeste, exatamente como ocorreu na safra 21/22.
Essa safra foi tipicamente sobre a influência da La Niña, já que tivemos uma grande seca no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e sul do Paraná e várias regiões do norte do país sofrendo com alagamentos incríveis.
Mato Grosso do Sul não observamos grandes alagamentos, mas tivemos, por exemplo, boas condições de crescimento na soja por conta, exatamente, da presença da La Niña.
Inclusive o milho, que já foi semeado no Mato Grosso, vem se desenvolvendo muito bem nessa região porque as chuvas continuam de forma abundante, com sol e temperatura adequada, fazendo com que as previsões de produtividade para o milho safrinha do Mato Grosso sejam muito boas.
Assim, generalizando, podemos dizer que para todo o Centro-Oeste as condições nesse ano são boas. Único problema que podemos ter é a dificuldade de colheita por conta das chuvas incessantes.
De forma geral, a gente pode classificar como uma safra muito boa na parte de cima do país e uma safra muito ruim na parte de baixo, na região sul do país.
Mensagem final
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