Semente de qualidade é o que todo produtor busca para garantir uma lavoura produtiva e com sanidade. ️Mas o que significa uma semente ter qualidade? Como avaliar e escolher sementes de qualidade?
Profissionais do agronegócio sabem que a qualidade é necessária para se obter uma boa lavoura e que o uso de uma semente duvidosa coloca em risco toda uma safra. Como é um tema importante a ser discutido, convidamos Vanisse para tirar as principais dúvidas sobre a qualidade das sementes.
Vanisse é engenheira agrônoma formada pela universidade federal de Lavras, com mestrado e doutorado pela mesma instituição, já atuou como gerente da qualidade de sementes e como responsável técnica de laboratórios de qualidade de sementes. Atualmente é consultora e auditora nesse setor.
Quando falamos em sementes com qualidade, a que tipo de qualidade estamos nos referindo?
Quando falamos que uma semente possui qualidade, falamos não apenas em germinação e vigor, os quais são atributos relacionados à qualidade fisiológica da semente.
Veja que germinação e vigor são importantes para a semente e são mais perceptíveis pelo agricultor, mas além de ter uma boa germinação e um bom vigor, o produtor exige outros atributos para compor uma semente de qualidade.
Explicando de uma maneira bem prática, quando o produtor compra um saco de sementes ele está buscando uma semente de alto vigor, alta germinação, mas além disso ele quer que dentro daquele saco tenha a semente do híbrido que ele comprou.
Ou seja, ele não quer que tenha uma mistura genética nem varietal, mas sim um lote de semente com alta germinação, alto vigor e com pureza genética.
Além disso, o produtor não quer sementes quebradas no saco de semente que ele está comprando, nem sementes de feijão, nem de soja misturados na semente de milho, quer uma semente pura.
Resumindo: alta germinação, alto vigor, qualidade genética e semente pura, ou seja, pureza física é o que o produtor busca no saco de semente.
Ele procura um conjunto de benefícios para ter uma lavoura produtiva. Por isso, quando falamos em qualidade, termo extenso, não falamos apenas de germinação e vigor.
Ainda temos a qualidade sanitária: uma semente livre de patógenos, fungos, bactérias, vírus.
Sementes infestadas por patógenos se constituem em um dos principais meios de disseminação para áreas novas, além de afetar a germinação e o vigor.
Então o termo qualidade é bem abrangente, apesar de que, como já comentamos, muitos ainda associam apenas a germinação e vigor, o que não é verdade.
Podemos nos perguntar: Qual deles é mais importante? Qualidade genética, alta porcentagem de germinação? Todos andam juntos e não adianta você ter um e não teu outro.
Você pode ter um lote de semente germinando 100%, mas cheio de contaminação genética, por exemplo.
Qual é a importância da qualidade fisiológica das sementes?
A germinação e vigor são dois dos atributos dentro da qualidade fisiológica da semente.
Mas antes de falar das vantagens de se ter uma alta germinação e um alto vigor, eu ainda acho importante conceituar esses dois termos, porque ainda se confundem.
Falando de uma maneira muito simples, a germinação nada mais é do que emergência e desenvolvimento de uma plântula normal sob condições ótimas.
Ou seja, você está oferecendo tudo do bom e do melhor para sua semente germinar. Você está oferecendo luz, temperatura, umidade, oxigênio, não faltando nada para ela germinar.
Já o vigor é a capacidade dessa semente gerar uma planta com bom desempenho sob condições adversas, ou seja, a semente vai sofrer algum tipo de estresse.
Por que que hoje o teste de vigor tem sido um dos principais parâmetros para tomada de decisão dentro das sementeiras? Exatamente porque o teste de germinação é feito em condições adequadas e sabemos que a realidade no campo não é essa.
Como esses termos se confundem é importante falar sobre deles na prática também.
Por exemplo, no Rio Grande do Sul é muito comum a prática de plantar no cedo, julho e agosto, e nessa época o solo está frio, o que é uma condição adversa para a sementes, e nessas condições pode demorar até 10 dias para germinar. Então se não utilizar uma semente com alto vigor, talvez nem germine.
Por isso é importante as sementes mais vigorosas para suportar melhor essa condição adversa do frio do que uma menos vigorosa.
As vantagens em se ter uma semente de alta germinação e vigor é a maior velocidade de emergência, uniformidade de arranque, uniformidade de estande, uniformidade de tamanho de espiga, menos plantas dominadas e, consequentemente, uma lavoura muito mais produtiva.
Quando você vê a uniformidade no arranque significa que a semente está com alto vigor e, consequentemente, a sua lavoura vai ser mais produtiva, porque você vai ter menos planta dominada.
Sabendo que as empresas hoje estão trabalhando com processos rígidos de produção e controle de qualidade. O que o produtor ou os distribuidores podem fazer para manter a qualidade destas sementes até o plantio?
Essa pergunta é muito interessante porque, conforme você disse, existe todo um trabalho durante o processo de produção da semente para manter a qualidade que é feita lá no campo.
Então, ocorre todo o processo até a chegada ao produtor ou ao distribuidor para manter a qualidade da semente e o grande desafio está aí.
Primeiro ponto que deve ser levado em consideração para manter a qualidade da semente até o plantio é o fato da semente ser um ser vivo.
Sendo um ser vivo, temos que armazenar em condições que favorecem a semente, sendo elas a temperatura (10 a 12ºC) e umidade (40 a 50%).
Mas sabemos que a maioria dos produtores e distribuidores não tem as condições ideais para armazenamento de semente.
Sendo assim, a opção seria fazer a entrega mais próximo do plantio, mas muitas vezes sabemos que é inviável, porque nas primeiras chuvas o produtor já quer estar com a sua semente.
Então o que fazer? Como ele não tem as condições adequadas e a semente tem que estar com ele nas primeiras chuvas, o produtor deve buscar as melhores condições de armazenamento.
E quais são as condições que melhoram o armazenamento?
Local seco e arejado, não colocar diretamente no chão, distanciamento da parede, não fazer pilha muito alta, limpar para evitar roedores, não guardar perto de produtos químicos, não abrir a sementes, entre outros fatores que minimizam o processo de deterioração.
Portanto a primeira questão é o armazenamento da semente. Além disso temos outro ponto importante, o tratamento de semente.
Muitos produtores ainda têm a prática de fazer esse tratamento na fazenda. Só que é uma prática extremamente perigosa, porque você não tem precisão do seu produto, pode estar usando produtos sem registro, ter incompatibilidade desses produtos na calda e, consequentemente, você não vai ter um bom recobrimento da semente e uniformidade no tratamento.
Ao contrário do tratamento industrial em que as sementeiras tratam as sementes em máquinas extremamente modernas e manipuladas por pessoas que tiveram treinamento para estar fazendo aquilo.
Dessa maneira, no tratamento industrial há precisão no recobrimento das sementes.
Além disso, quando o produtor trata a semente on farm infelizmente perde a garantia da qualidade daquela semente.
Isso é um problema muito sério, porque não é raro receber uma reclamação de problema de qualidade de uma semente que saiu da empresa com uma qualidade excelente e, quando feita toda a parte de investigação de causa, se deparam que o problema foi o tratamento de sementes feito pelo produtor on farm.
Por isso, o produtor deve manipular o mínimo possível as sementes. De preferência, realmente comprando a semente tratada para quando a semente chegar só colocar o grafite e manipular o menos possível.
Como as empresas estabelecem os padrões de qualidade e asseguram que isto chegará até o produtor?
Vamos falar de dois pontos. O primeiro vamos falar em geral, que toda a sementeira, produtora e comercializadora de sementes, por exemplo de milho e sorgo, precisa fazer.
É estabelecido pelo Ministério da Agricultura padrões em normativas, ou seja, quais tipos de análise que eu como produtor e comercializadora de semente sou obrigada a fazer e qual é o padrão mínimo para que eu possa vender.
Toda a sementeira faz isso, então no caso da semente de milho, por exemplo, o padrão para comercialização de semente é 85% de germinação.
Mas qual produtor hoje quer uma semente de milho com 85% de germinação? Nenhum. Não tem produtor que aceita uma semente com 85% diminuição de milho, porque eles estão cada vez mais exigentes.
Além disso, existe a competitividade de mercado entre as empresas.
Aí entra o segundo ponto, que é o controle interno de qualidade das empresas em que cada sementeira estabelece quais análises, tipos de testes de vigor vai fazer e padrão mínimo de comercialização, porque não existe um padrão de vigor estabelecido pelo Ministério.
Então eu como empresa vou estabelecer com meu padrão é 95, você como outra empresa 93 e assim por diante. Dessa maneira, as sementeiras têm trabalhado durante todo o processo de produção.
Especificamente falando sobre as sementes da Santa Helena, o qual eu conheço pessoalmente o controle interno de qualidade de sementes, a equipe faz um trabalho durante todo o processo de produção, que vai desde a questão de rastreabilidade até a questão de coleta de amostras durante o processo de produção para checar e monitorar a qualidade da semente.
O desafio é coletar amostras durante esse processo de produção para chegar e monitorar mensalmente a qualidade em todo o período de armazenamento.
A própria empresa também estabelece, dentro do seu controle interno de qualidade, qual será a periodicidade da coleta dessas amostras para checar e garantir que a semente seja entregue ao produtor com excelente qualidade.
Quando o produtor recebe o boletim, documento que acompanha a semente de milho, ele pode conferir o exame de semente infestada, germinação e pureza.
Só que atrás disso, existe todos aqueles atributos que as empresas estão atestando para garantir a qualidade das sementes.
É um processo bem complexo, porque hoje em dia o mercado está cada vez mais competitivo, então temos que buscar alternativas para pegar os gaps e não deixar uma semente que não tem qualidade ir para o produtor.
Caso alguém tenha alguma dúvida, podem entrar em contato através do e-mail [email protected]
Santa Dica
O Santa Dica, podcast de perguntas e respostas da Santa Helena Sementes, convida especialistas experientes do agro para responder dúvidas abordando os temas mais relevantes e debatidos do setor agropecuário, especialmente relacionados às culturas de milho e sorgo.
Veja também os episódios do Santa Dica sobre:
Como é feito o teste de germinação do milho?
O que é vigor da semente e qual a importância disso na cultura do milho?
Qual a importância do beneficiamento de sementes para a lavoura?