Gestão Financeira na fazenda T.3 Ep.14

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Gestão financeira na fazenda possibilita o controle e análise das atividades financeiras, fornecendo ao produtor condições para tomar boas decisões com relação ao seu negócio. 

Por isso, neste episódio do Santa Dica abordaremos sobre a importância, como fazer e quais ferramentas podem ajudar o produtor a realizar uma boa gestão financeira em sua fazenda. 

Para isso, convidamos Lucas Broch, consultor e sócio da Agros, empresa de assessoria e consultoria agropecuária que tem um espírito de pé no campo, atua no mercado brasileiro há mais de 30 anos e tem como principal objetivo encontrar respostas e gerar resultados para o produtor rural, para sua família e propriedade. 

Por que fazer a gestão financeira no agro? 

Precisamos entender que a agricultura no Brasil tem um modelo vencedor, porque se pegarmos os últimos 30 anos no Brasil veremos que a produção de grãos cresceu 5 vezes mais do que a área plantada. Isso é resultado de muito trabalho, tecnologia, investimentos e de muito conhecimento aplicado. 

O produtor rural brasileiro aprendeu a ganhar muita eficiência produtiva nos últimos anos, mas por outro lado a gestão financeira dos controles acabou ficando um pouco de lado.  

Felizmente, porque a agricultura vem entregando o resultado ao longo dos anos e isso talvez tenha feito com que os produtores não dedicassem tanto tempo investindo em gestão financeira, porque conseguiam ao longo do tempo ter uma boa rentabilidade e lucratividade, não demandando investimento ou mesmo um aperfeiçoamento financeiro, porque conseguiam tomar boas decisões com a margem que tinham. 

Também é importante entender que hoje apenas 43% dos agricultores brasileiros fazem o uso de software ou de uma ferramenta de gestão, de acordo com uma pesquisa que a Embrapa. 

Contudo, dos últimos anos para cá, a complexidade do agronegócio e da gestão da lavoura aumentou. Os riscos aumentaram assim como as obrigatoriedades. Hoje em dia, o livro caixa do produtor rural força com que se tenha mais controle e gestão financeira da fazenda, assim como acesso ao crédito. 

Se olharmos o último ano, em função da menor oferta de crédito do governo, os produtores se viram na necessidade de buscar algumas alternativas que não fossem das instituições tradicionais ou de crédito controlado.  

Como os bancos tendem a olhar a fazenda do ponto de vista do negócio, é importante que exista uma boa demonstração financeira para que o banco consiga avaliar bem o teu negócio, além de precificar o risco dos juros em função daquelas demonstrações financeiras da fazenda. 

Outro ponto importante que leva aumentar a necessidade dos controles de gestão financeira são as margens que tendem a ficar mais apertadas daqui para a frente. Se olharmos para o custo da última safra em relação às anteriores, podemos ver que aumentou bastante. Se o preço tiver algum viés ou uma produção reduzir, existe uma margem que vai ficar mais apertada.  

Todos esses fatores estão levando a necessidade de aprimorar os controles de modelo de gestão para que haja uma busca por ganhos de eficiência e de lucratividade. 

Quais os primeiros passos para começar a gestão financeira na fazenda?  

A fazenda precisa conhecer seus números e sua saúde financeira. Esse é o primeiro passo para identificar quais são as oportunidades de incremento de resultados, a redução do custo e redução de produtividade que existem do negócio. 

Sem medir e sem controlar os gastos, às receitas e os investimentos fica difícil saber onde deve ser colocado os olhos para fazer uma gestão ou um movimento financeiro operacional para aumentar seus lucros.  

Na nossa experiência, o que conseguimos entender é que existem 2 fatores principais intimamente ligados ao aumento de lucro. 

Primeiro, um bom planejamento. Uma fazenda ou um negócio que planeja bem as suas atividades, sejam elas operacionais, técnicas, tributárias ou de compra, têm uma condição melhor de fazer um bom resultado, porque tudo é pensado antecipadamente.  

Com relação aos tributos, a fazenda que faz planejamento de receitas e despesas tem uma ideia de como comportar os tributos se comportarão. Com isso, pode decidir fazer um investimento ou postergar a venda de um produto considerando um bom planejamento tributário, pois afeta diretamente o lucro, assim como compras.  

Fazer um bom plano de compras, considerar os momentos de oportunidade de compra e disponibilidade de caixa para isso vai ajudar a fazer uma redução nos custos. 

O segundo motivo que leva as fazendas a ter um bom desempenho é ter um bom benchmarking: com quem você se compara? 

Quando você fala sobre seus custos ou fala sobre suas receitas e produtividade, quais são as fazendas e qual o benchmarking que você entende que é adequado para a tua realidade?  

É muito importante ter essas perguntas em mente e refletir sobre elas dentro da sua gestão. 

Como saber onde podemos melhorar ou mudar para ser mais eficiente em termos de gestão? 

Nós, da Agros, fazemos um evento que é um ambiente de conhecimento chamado árvores 21 que desde 1999 mede os principais indicadores de resultado de custo e de produtividade de nossos clientes.  

Assim, todos têm a condição de identificar exatamente quais contas estão acima ou abaixo com relação aos demais. Isso dá uma noção clara de onde podem ser feitos os ajustes para aumento de lucro. 

Outro fator importante é entender que existe um aumento de custo evidente nas últimas 2 safras. Uma lavoura de soja que tinha o custo com insumos de mais ou menos R$ 2.500,00 por ha, hoje em dia o custo chega a R$ 4.000,00 ou até mais do que isso dependendo do momento de compra dos insumos da fazenda. 

Por isso, é essencial tomar conta da sua saúde financeira. Nós fizemos um estudo recentemente aqui no estado que identificou que o lucro acumulado de uma fazenda média do Rio Grande do Sul nos últimos 10 anos será consumido em apenas uma safra. 

Isso pode ocorrer por 2 motivos principais: o aumento de custo, que foi superior a 60% em relação à safra anterior, e uma quebra de safra. 

Enxergamos cada vez mais a necessidade da gestão financeira baseada na necessidade de medir os seus custos e essencialmente fazer uma boa gestão de caixa para aproveitar as oportunidades que vem aparecendo ao longo dos anos.  

Como se preparar para um cenário de aumento de preços e de riscos?  
 

 O item principal é uma boa gestão de caixa. Ficou evidente nos últimos 2 anos em função da questão da pandemia, que aumentou os custos dessa volatilidade dos preços que aconteceram nas principais commodities agrícolas e que precisa estar com um caixa bem-preparado. 

E o que é um caixa bem-preparado? É uma reserva de caixa necessária para momentos como aconteceu nessa última safra, especialmente em relação aos insumos.  

Se analisarmos os custos de fazer uma lavoura de soja na metade do ano passado e outra em maio desse ano, ou seja, um ano depois, há uma variação absurda de preços. 

E quem conseguiu aproveitar esta oportunidade? Quem tinha caixa. Porque para fazer bons negócios no ano passado precisava ter caixa para pagar antecipado, pois as companhias dificilmente conseguiriam manter os preços a prazo, porque não conseguiam ter certeza dos preços que poderiam praticar no futuro.  

O caixa é essencial, assim como uma boa informação. Com quem o produtor conversa para trocar ideia sobre compra de insumos? É um bom momento para comprar MAP? Melhor esperar para comprar o cloreto? Essas são dilemas vividos todos os dias. Ter pessoas e assessorias para conversar sobre esses assuntos, não é um custo, mas sim um investimento.   

No nosso grupo, por exemplo, tivemos a grande maioria das compras para a safra 22-23 feitas na metade do ano passado e no final do ano, o que nos deu uma vantagem em relação aos produtores que não conseguiram fazer essas compras.  

Primeiro, para um bom preparo de caixa procuramos fazer o tema de casa com relação à liquidez e com relação a disponibilidade de dinheiro e crédito. Segundo a própria informação, a rede de produtores que atendemos junto com a assistência que recebemos, nos ajudaram muito nessa decisão. Esse é um fato importante para quem quer aproveitar e quer se proteger do aumento de preço e dos riscos, inclusive que existem com relação as commodities.  

Nos últimos 2 anos, quem fez contratos futuros deve ter se arrependido em algum momento. E para o ano que vem? Já fez? Vai fazer? Vai esperar para fazer igual deveria ter feito nos últimos 2 anos? São decisões difíceis e que só podem ser tomadas depois de muito exercício, de muita simulação e de muita troca de vivência.

 

Quais são as ferramentas que os produtores podem usar para fazer a sua gestão financeira? 

Existem 3 ferramentas que são essenciais para uma boa gestão financeira. 

Primeiro, um bom orçamento, que é a tradução financeira de um bom planejamento. O segundo é um bom DRE (Demonstração do Resultado do Exercício), precisa ter um bom plano de contas, uma boa consistência da informação, um bom software de gestão que consiga dar essas respostas financeiras. E o terceiro item, um Balanço Patrimonial

Essas 3 ferramentas dão minimamente condições de tomar boas decisões com relação ao seu negócio. Com Balanço Patrimonial, é possível chegar numa análise importante de liquidez, por exemplo. 

E qual é uma boa liquidez para uma fazenda? Essa é uma pergunta que tem de ser entendida e respondida pelo gestor financeiro e pelo proprietário da fazenda.  

A liquidez tem que ser maior do que a relação entre o que eu tenho que pagar no curto prazo e o que eu tenho de disponibilidade tem que ser pelo menos 30% superior, ou seja, o que eu tenho disponibilidade tem que ser no mínimo 30% maior que aquilo que tem que pagar no curto prazo. 

Outra relação importante que tem que se medir é alavancagem financeira, ou seja, considerar todas as dívidas que eu tenho em relação ao meu lucro operacional, sendo que essa relação precisa ser inferior a 4. 

Isso significa que eu não posso estar endividado mais do 4 que vezes a minha capacidade de geração de resultado, porque isso vai levar a empresa invariavelmente a uma pressão de juros e de caixa, fazendo com que a fazenda perca oportunidades ou fique em situação financeira mais fragilizada ao longo do tempo. 

Principais causas dos problemas em gestão financeira nas fazendas 

Existem 3 principais motivos que levam as empresas a entrar em estresse financeiro. 

O principal fator que leva as fazendas a entrar em estresse financeiro ou a quebrar é a expansão, ou seja, dar um passo maior que a perna. 

O segundo motivo são os drenos para outros negócios. Por exemplo, quando a fazenda tem uma revenda de insumos, uma concessionária de máquinas ou qualquer outro negócio.  

Isso, faz com que ao longo do tempo a família leve o dinheiro da agricultura para o outro negócio, por isso se torna o segundo fator que leva as fazendas a entrar em estresse.    

O terceiro são as retiradas familiares, por isso é muito importante medir e calibrar as expectativas que a família tem em relação à renda e quais são as condições do negócio produzir essa renda.  

Esse equilíbrio é muito delicado, porque de um lado tem um padrão de vida do agricultor familiar, que tem aumentado ao longo do tempo, enquanto a capacidade de geração de resultados de negócios tende a se manter parecidas.  

Sem contar que a família cresce mais rápido do que o negócio cresce ao longo do tempo, então vai chegar um momento que não será possível gerar o mesmo padrão de vida para toda a família.  

É importante medir e controlar exatamente o quanto a família está levando do negócio. Se tem salário, tem que definir o salário.  

Se não tem salário, tem que estabelecer uma retirada para a família, que fica em acordo com a saúde financeira do negócio, porque afinal de contas quem vai produzir a renda para sua família viver vai ser um negócio e não dá para matar um negócio em favor da família. 

Para aquelas pessoas que que tiverem interesse ou necessidade de conversar um pouco mais sobre esse assunto, podem nos procurar nas redes sociais, nós estamos com  @grupo_agros no Instagram, no LinkedIn e o site, onde podem deixar mensagens, ficaremos muito felizes em poder compartilhar nossos conhecimentos com vocês! 

Santa Dica

O Santa Dica, podcast de perguntas e respostas da Santa Helena Sementes, convida especialistas experientes do agro para responder dúvidas abordando os temas mais relevantes e debatidos do setor agropecuário, especialmente relacionados às culturas de milho e sorgo.

Veja também os episódios do Santa Dica sobre Barter e sobre Agricultura de Precisão.

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