O mercado de milho está com uma tendência de queda nos últimos meses e, consequentemente, os preços não estão muito animadores para os produtores. Mas como serão os próximos meses? O convidado deste episódio do Santa Dica é Alberto Pessina que compartilhou as expectativas sobre o tema.

Alberto Pessina é Engenheiro Agrônomo formado pela ESALQ-USP, com MBA pela Fundação Dom Cabral e mais de 25 anos atuando no setor, além de fundador da Agromove. 

Quais são as expectativas para os preços do milho nos próximos meses? 

Primeiramente, tudo o que projetamos vem de uma estrutura em cadeia, então quando olhávamos lá atrás para a estrutura do milho já existia a expectativa de aumento de produção principalmente no Brasil, dado que em 2022 tivemos uma produção menor. 

Revisamos as projeções de produção e vem se confirmando com uma excelente produção. Essa confirmação vinda num cenário de alta oferta, conjugado com um cenário de alta oferta de soja, traz um excedente para a nossa capacidade de logística, o que já causa uma pressão baixista.  

Um segundo fator do que está derrubando hoje o preço do milho é que o produtor, pelos anos passados muito bons e pelo custo elevado de adquirir os insumos em 2022, também ficou esperando o preço voltar para o patamar de 100 ou sonhando com esse preço. 

É uma falha dos produtores não ter um modelo menos intuitivo de projeção de preço, eles têm muita intuição, mas não olham modelos de projeção que usam estatística e dados que mostram que essa força de alta vinha sendo perdida. Sempre que temos um excesso de produção você tende a ter uma queda de produção.  

O terceiro fator é que os preços historicamente estavam muito altos tanto em Chicago quanto no Brasil, o preço do milho em dólar estava muito alto devido à pandemia e quando temos algo que sobe muito provavelmente em algum momento terá uma grande queda. E na hora que tudo favorece a produção o mercado é saturado e ao não comercializar muito isso pesa ao produtor. 

Quando o preço começou realmente a ter a pressão baixista, apareceu toda aquela turma que não havia comercializado, isso dá mais um peso nessa derrubada de preços. 

Hoje temos uma derrubada significativa de preços com uma produção, até o momento, caminhando muito bem e isso traz uma pressão. 

Olhando para frente, temos alguns pontos podem trazer ao milho estresse. Se olharmos para produção global para essa safra, ela está mostrando que tem menos oferta de milho e de produtos energético substitutos, como farelo de trigo, e outros produtos têm uma oferta menor do que a demanda.  

Dessa forma, há uma queda na produção global de milho, causados pelo efeito Argentina, efeito Ucrânia, pelo efeito da região da guerra, onde houve uma queda da produtividade dessas regiões e diminuindo a oferta. 

Com isso, os Estados Unidos fizeram uma safra boa, não excelente, foi uma safra intermediária, e o Brasil é o único que veio muito bem na sua produção. 

Assim, neste ano temos um quadro de oferta global um pouco menor e oferta brasileira muito boa, mas no quadro oferta vs demanda ainda há um gap entre o que vai ser ofertado ao mercado e o que a demanda vai consumir. 

O segundo fator, é que a produção está vindo com muita chuva, mas poucas pessoas estão olhando para o atraso significativo do plantio das lavouras e, portanto, o atraso no processo de crescimento, e que nós vamos ter agora em maio, principalmente do meio do centro-oeste para baixo, entrando no processo de florescimento, que dura de 15 a 20 dias e necessita de água para germinação e formação dos grãos. A região ficou com mais de 20 dias sem chuva e pode ser que gere um efeito na formação dos grãos, o que pode trazer um tipo de estresse.  

Temos então os seguintes potenciais de estresse para o milho: a chuva; a região da Ucrânia em negociação sobre transporte na região do Mar Negro com a tensão da Rússia ameaçando bloqueá-lo novamente; a melhor produção Ucrânia no ano que vem; e uma oferta demanda global menor, o que tenderia neste momento a busca desse milho no Brasil. Então pode ocorrer a qualquer momento alguma demanda um pouco melhor pelo milho brasileiro. 

O terceiro movimento que temos visto é que o milho brasileiro, com essa queda muito forte, tem incentivado a China a parar com as compras nos Estados Unidos, cancelar contratos e comprar com o Brasil.  

O quarto movimento é que as relações de troca do preço do frango, que é um grande consumidor no mercado interno, o preço do suíno e o preço do boi, em relação ao preço do milho, melhoraram significativamente incentivando a alimentação desses animais e o aumento de produção dessas cadeias.  

Então, parece que estamos mais próximos ao fundo dada essa queda e talvez, dependendo do nível de estresse que podem aparecer, mudando a perspectiva para alguma alta no preço do milho no segundo semestre. Não há uma certeza, mas precisamos que esses efeitos ocorram para auxíliar na formação de preços para o segundo semestre.

O clima está mais favorável para o plantio de milho no Estados Unidos, ou seja, fator que tende a abaixar os preços no Brasil. Você acha que isso vai se concretizar? Isso pode afetar mesmo os preços do Brasil?  

Se olharmos a projeção de clima até setembro para o Corn Belt não há sinal de problemas climáticos e isso pode gerar uma boa safra Americana. 

O plantio também está caminhando muito bem com 49% do plantio de milho adiantado até maio de 2023, sendo que a média histórica é 42% para o mesmo período, ou seja, um pouco acima da média o que pode trazer alguma oferta para o final do ciclo. 

Mas temos uma falha entre esse momento em que os Estados Unidos produzem e o momento lá na frente, se nós tivermos algum problema na safra brasileira ou se houver algum problema instantâneo no Mar Negro há um período de estresse e a demanda está forte e global, o que pode trazer alguma tensão. 

A primeira publicação USDA trouxe que a próxima safra no global vai crescer aproximadamente 6%. A demanda cresce um pouco menos, então teoricamente para a próxima safra – que seria essa safra Americana e a próxima safra Brasileira – a oferta está um pouco maior do que a demanda potencial para a próxima safra.  

Temos que considerar que os relatórios de início de projeção para um ano vão fazer correções e trazer a produção para níveis normais, então a projeção é de níveis normais.  

Por exemplo, no caso da Argentina que houve uma quebra significativa, já voltaram a trazer Argentina para o normal. A Ucrânia, baixaram um pouco por estar numa tensão de guerra. Os Estados Unidos, uma produção normal. O Brasil, uma produção normal. No Brasil não há uma projeção de crescimento, nos Estados Unidos também nada muito grande e na Argentina houve uma recuperação significativa na produção. 

Nos últimos anos, problemas climáticos têm aparecido e temos que considerar também a entrada do El Ninho que tende a trazer um clima um pouco mais adverso e seco para a região norte do Brasil. Temos visto nos mapas do Brasil para a próxima safra de soja que no início de setembro já vai ter um clima mais complicado com chances de chover menos. Não há uma certeza, mas esses mapas mostraram muito bem o problema da Argentina, e se realmente acertarem essa previsão podemos ter um atraso no início do plantio da soja e consequentemente impacto no plantio do milho. 

O caso do milho está sujeito muita tensão, porque o Mar Negro é uma região de fornecimento de importantes grãos energéticos e adubos. E nós temos as questões climáticas, tanto agora de final de safra quanto talvez no início da safra de soja, que pode mudar essa projeção inicial do USDA, que é uma projeção otimista e tende a modificar conforme os problemas vão aparecendo. 

Sendo assim, ainda temos um cenário de tensão no milho e se o caminhar do clima e da produção forem positivos essa tensão vai se aliviar e o preço não vai subir. Se nesse caminhar aparecer os pontos citados anteriormente isso pode trazer tensão nos preços. 

Uma matéria recente mostrou que a China está reduzindo as compras de milho dos Estados Unidos e tendendo a priorizar os fornecedores dos países pertencentes aos BRIC’s. Quais as expectativas em torno dessa notícia?   

O preço brasileiro ficou barato então é natural que sejam feitas negociações comerciais buscando pressionar os preços dos Estados Unidos.  

Além disso, às vezes não notamos o efeito climático na China, mas quando olhamos para a previsão do clima nesta safra em sua região de grãos, há alguns pontos com problemas climáticos. Se isso ocorrer, também pode aumentar a demanda por grãos e vão procurar comprar barato.  

À longo prazo, a China quer ser autossuficiente em milho, mas a curto prazo não é possível. Inclusive na publicação da safra 23/24 do USDA há uma expectativa de 18 milhões de toneladas de importação nessa safra na China e aumento da importação para a próxima safra, sendo assim há o crescimento da expectativa de importação da China. 

Este país mudou muito o mecanismo de produção de suínos, grande estrutura de produção deles. Eles saíram de um sistema de pequenas granjas e fazendas com suínos espalhados para grandes granjas com eles fechados, alimentação de grãos muito forte que deve tender a desafiar um pouco mais esse modelo, por isso, qualquer problema relacionado a produção de grãos vai pesar muito mais na conta.  

Então há essa conversa de tensão nos Estados Unidos e China que existe há tempos, são 2 potências econômicas que têm interesses diferentes e estão brigando, e o Brasil entra numa posição muito saudável nessa discussão por ser neutro, sendo um fornecedor de alimentos que não está favorecendo nenhum. Então, não havendo guerra, faz sentido que a China migre para o Brasil, mas eu sempre alerto que o foco é o preço. 

Temos alguns fatores que podem animar os produtores para o segundo semestre em termos de preços no mercado de milho?

Sim! Mas tem coisas que não são controláveis, fatores que devem estar em nosso radar porque se ocorrerem faz sentido que haja alguma reação na precificação do milho. Ele teve uma queda muito forte devido a essa questão de logística, a super safra de soja e a expectativa do super safra de milho que ainda podemos ter problema e, com isso, pode haver frustrações tanto nacionais como internacionais. 

Considerações finais 

Agromove é uma empresa que usa estatística tentando entender cadeia, projeções de preço e ajudar produtores no Brasil todo. Acompanhe nas redes sociais em @agromove e acesse informações interessantes no blog acessando este link  blog.agromove.com.br. 

A Agromove convida o pessoal a cada 15 dias para conhecer seções de cenários revisando o quadro comentado neste podcast para que o produtor possa tomar estruturas de proteção de preços com orientações em posicionamentos de mercado, acompanhamento da margem de lucro e construção das estratégias de margem de lucro. 

Santa Dica 

O Santa Dica, podcast de perguntas e respostas da Santa Helena Sementes, convida especialistas experientes do agro para responder dúvidas abordando os temas mais relevantes e debatidos do setor agropecuário, especialmente relacionados às culturas de milho e sorgo.

Veja também os episódios do Santa Dica sobre:
Parceria Rural 
Gestão Financeira na Fazenda


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