Ferramentas Digitais no Agro T.4 Ep.4

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Ferramentas digitais podem ser grandes aliadas aos produtores na otimização de custos da fazenda se bem utilizadas. Para falar sobre esse assunto, convidamos Luis Gustavo Mendes. 

Luis é Engenheiro Agrônomo, formado pela ESALQ, com especialização em Engenharia de Precisão e Agricultura Digital e atualmente é Coordenador de Produtos Educacionais da empresa Agroadvance Brasil. 

Quais ferramentas digitais podem realmente ajudar o produtor rural hoje? 

Atualmente, existem infinitas tecnologias, sensores, satélites, drones, muitas ferramentas que são passíveis de serem aplicadas dentro das fazendas. Contudo, temos escalas produtivas diferentes, com pequenas, médias e grandes fazendas. 

Tenho clientes com 10 mil ha que se consideram pequenos produtores, então é necessário entender muito bem a dor desse cliente e quais seus problemas para que possamos resolver utilizando tecnologia. 

As ferramentas, agricultura digital, 4.0, 5.0 são um meio para ele atingir um resultado.  

Eu brinco falando que o produtor agrícola não acorda querendo comprar um satélite, um drone, uma tecnologia. Ele tem um problema dentro da propriedade e nós temos um leque de ferramentas digitais que podemos aplicar dentro da área dele.  

Vou citar alguns exemplos. Tenho clientes que têm problemas, por exemplo, consumo de combustível, ou seja, possuem máquinas que representam grande parte dos custos.  Esta fazenda pode optar por software de telemetria, em que é possível puxar esses dados via Rede CAN da máquina, isso vem tudo pelo Wi-Fi das propriedades e das máquinas agrícolas e, com isso, conseguimos ter um relatório de consumo de combustível máquina a máquina. 

Às vezes se tenho uma máquina com uma potência fraca que está fazendo uma aração ou uma gradagem, a máquina tem que trabalhar esforçando numa rotação mais alta, vai consumir mais combustível.  

Se eu compro uma máquina com uma cavalaria um pouco mais potente e um pouco mais forte, eu consigo economizar combustível trabalhando com uma marcha um pouco reduzida e vice-versa.  

Eu tenho às vezes 2 tratores operando, independente da cor, se é John Deer Case, New Holland, e um trator está gastando mais combustível que o outro. Se eu não tivesse um software de telemetria para levantar esses dados e perceber que aquele trator que está gastando mais está com filtro sujo e precisa de uma manutenção preventiva ou corretiva, a fazenda continuaria com custos elevados em maquinário e de frota.

Para esses casos de economia pensando na frota agrícola são indicados os softwares de telemetria.  

Outro exemplo, eu aplico muito insumo dentro da minha propriedade, às vezes eu gasto muito dinheiro e não consigo produzir mais nem rentabilizar. Então eu posso pegar alguns softwares para analisar a fertilidade do solo, fazer os mapas de fertilidade e parar de aplicar esses insumos pela média.  

Hoje, se eu aplico pela média dentro da fazenda não conseguimos otimizar esses insumos e acabamos errando 2 vezes. Onde às vezes precisa de mais insumos e eu aplico pela média acabo deixando de colocar, e onde às vezes não precisa estou colocando a mais e gastando dinheiro, além disso o insumo está sendo lixiviado e contaminando rios e o lençol freático. 

Também temos inúmeras tecnologias gratuitas para aqueles pequenos e médios produtores, por exemplo, mapas de NDVI que são biomassa e da lavoura, a gente tem satélites que fornecem essas informações a cada 5 dias para os produtores a custo zero. 

Temos softwares, por exemplo, com o QGis para trabalhar com esses dados para geoprocessar essas informações, também é gratuito.  

Se eu quiser arrendar uma propriedade hoje ou comprar uma propriedade, e eu vou plantar soja, milho, cana-de-açúcar, são as culturas que demandam de mecanização, hoje existem satélites gratuitos, como exemplo ALOS Palsar, com o qual é possível fazer um mapa de altimetria dessas propriedades e ver quantos por cento dessa área que eu vou arrendar ou comprar são passíveis de serem mecanizadas e as outras áreas deixo para a Reserva Legal e para a Floresta. 

Essas são tecnologias que cabem para qualquer fazenda e por isso gosto de falar que o produtor tem que se atentar muito na dor e no problema que às vezes está tentando resolver. 

Hoje temos ferramenta, software e tecnologia e estamos muito bem supridos dessas tecnologias do mercado.  

Ao mesmo tempo que todo mundo quer ter inovação dentro da sua fazenda existe um certo preconceito por achar as ferramentas complexas.  Quais são as dicas para quem quer começar? 

Vemos hoje que muitas fazendas estão passando por um processo de sucessão familiar. Então o proprietário não vai sentar na frente do computador para fazer esse mapa, mas às vezes o sobrinho ou filho já conhece um pouquinho mais de tecnologia.  

Esse filho, essa próxima geração, não anota nada mais no papel, está o tempo todo com celular que tem aplicativo para deixar tudo registrado, para quando sair um coordenador ou um gerente da fazenda e entrar um outro no lugar, ter todos aqueles dados muito bem documentados para conseguir tomar decisão na fazenda.  

Então aqui temos 2 opções. Cada um vai ter que escolher de acordo com a sua expertise. Se o produtor não gosta de criar os mapas, tem empresas no mercado que fornecem esse tipo de serviço para ter contratados, pode comprar um software ou assinar uma plataforma para aplicar isso no campo.  

Muitos pequenos e médios produtores dizem que não tem dinheiro para aplicar, mas temos softwares e ferramentas gratuitas para aquelas pessoas que querem iniciar e aplicar essas tecnologias nas suas áreas, e o primeiro passo e o caminho mais barato é utilizar essas ferramentas.  

A partir do momento que deu certo e o produtor quer ganhar escala, vai para um segundo passo de contratar um software, assim o produtor pode ir para o campo fazer o que gosta e deixa a expertise para quem quer processar esses dados, contratando empresas de relevância no setor. 
 
Se o produtor não gosta de voar com o drone não precisa comprar, basta contratar uma empresa no mercado e hoje essas tecnologias já têm um custo bem legal. Então se colocar na ponta do lápis, a tecnologia vai dar resultado? Vai dar sucesso? Então podemos aplicar nas fazendas do agronegócio. 

Ferramenta digital é gasto ou é investimento? 

Se o produtor não souber o que fazer com aquele mapa colorido ou com aquela tecnologia que ele comprou, se ele pagar 1 real daquele aplicativo sem usar para nada vai acabar sendo um gasto, que é o que eu vejo às vezes de algumas empresas que entregam esse tipo de serviço no mercado. 

Às vezes a empresa levanta o dado, o produtor recebe aquela informação, olha o mapa vermelho e verde, sabe que o vermelho está ruim e que o verde está bom, mas o que que ele faz com essa informação?  

Muitas empresas que vendem software ou tecnologia param nessa etapa e não ajudam o produtor a tomar uma decisão mais eficiente. Então hoje eu já tenho casos de estudos com clientes que atendi de projeto vendido por R$ 10.000,00 de intensificação da propriedade, onde foi estudado as áreas mais produtivas, quais são as áreas que ele deveria ir, reformar, recuperar e quais são as áreas ele conseguiria mecanizar dentro da propriedade, com isso o cliente conseguiu economizar e retornar R$ 120.000,00 daquele projeto.  

R$ 10.000,00 é caro para uma fazenda hoje? Depende. Mas foi um investimento e ele retornou esses R$ 120.000,00, isso sim foi um investimento. Se a gente entregasse só uma informação, o mapa colorido que o produtor não consegue tirar nenhuma recomendação nem identificar um gargalo produtivo, não consegue identificar uma aplicação de um insumo de uma forma mais eficiente, uma telemetria ou alguns dados da máquina que ele consegue atuar e fazer uma ação que vá voltar para a fazenda economizando dinheiro e aumentando a produtividade, aí sim estamos falando que vai ser só custo para dentro da propriedade.  


Então essa parte de custo ou investimento é muito legal de trazer, porque basicamente todas as tecnologias que temos no mercado vão ter seus prós e contras e a principal delas, tocando já na polêmica, é o satélite e o drone.  
O produtor as vezes questiona sobre qual dos dois comprar, a realidade é que os dois são bons. Em pecuária, geralmente áreas maiores, não cabe um drone porque ficaria muito caro, então é recomendado o satélite.


Em soja e milho, às vezes vou fazer uma aplicação e eu posso aplicar com drone, que custa R$ 100,00 a R$ 300,00 para pulverizar 1 ha, neste caso você paga porque não consegue entrar com o pulverizador e vai amassar a cultura, dessa forma, garante a produção de 60 sacas, 70 sacas, 80 sacas.

 
Sendo assim, não tem uma tecnologia que seja melhor do que a outra, é necessário entender a dor do produtor. As tecnologias são essas, com suas limitações, com seus prós e contras e ninguém melhor do que os consultores e os produtores para identificar os gargalos e selecionar as melhores ferramentas para aplicar nessas áreas. 

Quais são as ferramentas gratuitas que cabem para pequenos e grandes produtores?  

Primeiro, temos algumas informações gratuitas cadastradas no site do CAR. Se vocês entrarem em car.gov.br, vai aparecer as informações das fazendas dos seus clientes, mas como o produtor que insere as informações algumas das fazendas não tem o georreferenciamento e tem que ajustar os desenhos, mas é possível pegar muita informação legal. 

Segundo, pode utilizar o software QGIS ou mesmo o Google Earth PRO para fazer o desenho das áreas dos clientes. Não estamos falando de tecnologia avançada, mas sim de desenho da fazenda em que é possível separar áreas de floresta, rio largo, Reserva Legal, APP, ou seja, áreas que não são úteis para praticar agricultura. 

Tenho clientes que tem 6 mil ha e quando você vai olhar 66% é floresta, então é totalmente diferente comprar semente, adubo e pulverizar 6 mil ha ou 1973 ha, que era na verdade a área que ele tinha.  

Então primeiro mapas do CAR, depois fazer esses desenhos gerais da propriedade para levantar áreas úteis e áreas que não conseguimos trabalhar com a cultura, próximo passo, mapa de altimetria. 

Para os mapas de altimetria recomendo usar o satélite gratuito chamado ALOS Palsar. É possível fazer também curvas de nível da propriedade a cada 5 m, a cada 10 m, ele é aberto e no programa é possível configurar para ver como está em altimetria: Quais são as áreas mais altas? Quais são as áreas mais baixas? Dá até para olhar em algumas fazendas áreas que alagam e que tem problemas, por exemplo, em soja algumas áreas que alagam têm mais incidência de nematoides. Visto então essas regiões, conseguimos levantar com esses mapeamentos gratuitos e outras informações do mapa de altimetria. 

Quarto, mapa de declividade. No programa também conseguimos pegar um mapa de altimetria e transformar num mapa de mecanização agrícola, nele consigo ver quantos por cento da fazenda do meu cliente consigo andar com a máquina, ou seja, mecanizar. Para aquelas fazendas que são altamente dependentes de mecanização agrícola – cana-de-açúcar, milho, soja e outras – é possível já separar quais são as melhores áreas, as áreas mais planas para fazer agricultura.  

 
Em áreas com declive acima de 15% existe o risco do trator capotar durante a operação, por isso é necessário trabalhar devagar e com uma marcha reduzida, com isso a eficiência operacional será mais baixa e o gasto de combustível mais alto, ´então recomendamos já deixar essas áreas para a floresta, afinal eu tenho por lei que deixar 20%, 50%, dependendo do estado.  
 

Quinto, mapa de biomassa da vegetação, ou seja, mapa de NDVI, são imagens gratuitas onde consigo ver quais são os talhões com maior potencial de biomassa e correlacionar com maior produção. Por exemplo, na cana-de-açúcar geralmente se eu tenho mais biomassa, tenho mais cana e às vezes consigo ter maior produtividade. Para a soja, isso não funciona tanto, às vezes a cultura da soja que tem muita biomassa tem muita folha, para essa cultura o que dá produtividade são os grãos por vagem, então com a soja não correlaciona bem.  

Enquanto para o milho se correlaciona bem. Se tiver uma alta quantidade de biomassa, geralmente eu vou ter uma produtividade mais alta, então a cada 5 dias a gente tem um satélite gratuito. Às vezes tem um problema com nuvem? Sim, mas a cada 5 dias tenho informações gratuítas de novo. 

Sexto, mapa de fertilidade das minhas áreas, indicado para médias e grandes fazendas, porque é necessário ir à fazenda amostrar o solo, coletar coordenada e depois espacializar e olhar como está a fertilidade da propriedade para depois fazer a aplicação desses insumos.  Posso fazer em taxa variada, neste caso preciso ter os equipamentos, ou eu posso fazer por talhão, e ao invés de aplicar na fazenda inteira em 2000 há, aplicar de 40 há, 50 há, assim serei mais eficiente.  

E o último deles é o mapa de produtividade. Neste caso também preciso ter os sensores, na minha máquina, minha colhedora. E o mapa de produtividade é muito legal também e funciona para médias e grandes fazendas, porque às vezes o pequeno produtor não vai ter R$ 100.000,00 para comprar um kit taxa variada, para colocar um GPS na máquina e para colocar esses sensores na sua colhedora. Então aqui estamos falando para médias ou grandes fazendas.  

Ninguém melhor do que a planta para mostrar o solo que ela está inserida. Se produziu muito, tem fertilidade legal, às vezes um solo argiloso com matéria orgânica. Se produziu um pouco, às vezes eu tenho uma área com um solo pedregoso, arenoso, com baixa quantidade de matéria orgânica, é um solo pobre. Eu não preciso adubar, jogar uma carreta de adubo, porque aquela área  muitas vezes não vai responder como uma área de alta produtividade com muita matéria orgânica. 

Então com o mapa de produtividade das áreas é possível olhar essas informações e ele é muito rico quando falamos em tecnologias digitais.  

Mapa do CAR, mapa geral da fazenda, mapa de altimetria, mapa de declividade e mapas de NDVI são gratuítos. Depois temos em mapa de fertilidade do solo, necessário uma equipe em campo para coletar o solo, e um mapa de produtividade que exige sensores nas máquinas.  
Existe um aplicativo legal e que eu uso muito com os clientes que atendo para coletar solo chamado 4 Farm. No aplicativo é feito os pontos amostrais, jogo para um celular – nem precisa estar com o software na mão – e é possível criar tudo online. Se o cliente está em outro estado, por exemplo, ele baixa 4 dígitos no celular dele e consegue coletar o solo onde eu coloquei o ponto, consegue usar para esticar cerca nas divisas, fazer estrada na propriedade, fazer limitações. 

Então percebam a quantidade de ferramentas gratuitas que existem para aplicar dentro do campo, o intuito aqui era desmitificar um pouquinho. Para os pequenos produtores que acham que a tecnologia ainda é cara e não conseguem aplicar na minha fazenda, temos muitas tecnologias gratuitas e muitas pagas também boas que trazem também excelentes retornos para os produtores rurais e o pessoal que está no campo buscando intensificar suas áreas produtivas, produzir às vezes mais na mesma área. Como é podemos fazer isso? Não tem jeito, tem que usar a tecnologia. 

Falamos de diversas vantagens das ferramentas digitais, se você pudesse eleger apenas 2 vantagens principais, porque o produtor deveria dar uma chance para essas ferramentas, quais seriam? 

Se fosse elencar duas, a primeira seria otimização ou redução dos custos dentro da fazenda e segunda economia de tempo.  

Hoje, um cliente que quer arrendar ou comprar uma fazenda, às vezes ele está em São Paulo, onde é médico ou advogado e a fazenda é no Mato Grosso ou Goiás, em que o bate volta de caminhonete pode ser de 12 horas a 24 horas. Eu aqui com o computador em 4 horas consigo levantar um detalhamento tão assertivo que às vezes nem rodando na fazenda de 1.000 ha no dia conseguiria ter uma noção de como que a fazenda está se comportando. Hoje a economia de tempo é fundamental.  

Considerações finais 

Temos máquina, software e tecnologia. O que que falta? Faltam pessoas igual a você que querem entender que as tecnologias, seja o drone ou satélite, são ferramentas para conseguir reduzir custos, aumentar produtividade no campo e dependendo da situação cabe a tecnologia A e em outras tecnologia B.  

Sabemos que são grandes desafios de conectividade no campo e que é difícil processar os dados, não é só apertar um botão para o mapa aparecer perfeito na tela e assim economizamos custo, não é tão simples assim. Tem que ter trabalho e pessoas capacitadas.  

Se quiser entrar em contato com Luis Gustavo, o Instagram é @luisgustavooguia, perfil onde ele compartilha diariamente conteúdo de tecnologia digital, conteúdos gratuitos, aplicativos, softwares, sites do agronegócio. Luis também está no LinkedIn como Luis Gustavo Mendes. Se quiser saber mais sobre os seus cursos, acesse @agroadvance.br no Instagram. 

Santa Dica  

O Santa Dica, podcast de perguntas e respostas da Santa Helena Sementes, convida especialistas experientes do agro para responder dúvidas abordando os temas mais relevantes e debatidos do setor agropecuário, especialmente relacionados às culturas de milho e sorgo. 
 
Veja também os episódios do Santa Dica sobre: 
Parceria Rural 
Gestão Financeira na fazenda 
Sucessão familiar 


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