Como funciona o Sistema Antecipe? T.3 Ep.5

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O Sistema Antecipe não é uma ferramenta para consertar um planejamento mal feito, mas sim para fazer um planejamento ainda melhor. Mas o que é esse Sistema? 

Para esse assunto trouxemos o especialista Emerson (Embrapa) que explicará melhor neste episódio do #SantaDica. 

Emerson que é engenheiro Agrônomo pela UNESP, mestre e doutor em Agronomia e, atualmente, é pesquisador científico da Embrapa no Centro Nacional de Pesquisa de Milho e Sorgo. 

O que é o chamado “Sistema Antecipe”?   

O Sistema Antecipe é um sistema inédito na produção de grãos no Brasil, ele foi lançado recentemente, em novembro do ano passado, fruto de 14 anos de pesquisa e desenvolvimento. 

Esses estudos foram feitos na Embrapa, principalmente na Embrapa Milho e Sorgo, sediada em Sete Lagoas-MG, como também outros parceiros e outras unidades da Embrapa espalhadas no Brasil. 

O Sistema Antecipe é um cultivo intercalar antecipado de milho nas entrelinhas da soja antes da colheita da oleaginosa, sendo que ele se baseia em 3 pilares: 

Primeiro deles é o ineditismo. Como vamos conversar mais adiante, ele partiu de uma hipótese científica que evoluiu e que hoje estamos disponibilizando aos produtores brasileiros de uma forma inédita de se cultivar uma cultura, no caso milho, antes da colheita da soja. 

O segundo, foi o desenvolvimento de uma semeadora adubadora. É preciso ficar bem claro para todos que estão nos escutando que o sistema antecipe só é possível com uma semeadora adubadora específica para o sistema, e não com semeadoras convencionais.  

E o terceiro são ferramentas para ajudar o produtor na tomada de decisão. Entre as ferramentas disponíveis, colocamos à disposição um aplicativo para que o produtor possa direcionar a época ideal para a entrada do antecipe no campo.  

Assim, esses 3 pilares formam um sistema de produção hoje que é único no país, sendo que não temos conhecimento que exista outro país no mundo fazendo esse tipo de cultivo intercalar mecanizado. 

Inclusive, temos algumas pesquisas em que nós fizemos o Antecipe tanto com milho consorciado como só os capins em áreas de soja. O Antecipe não é só para milho e estamos hoje trabalhando com sorgo granífero, sorgo forrageiro, com gramínea forrageira e outros.  

As oportunidades desse sistema de cultivo intercalar mecanizado são muitas e o produtor vai poder utilizar isso na sua propriedade independente da região onde ele estiver. 

De onde surgiu essa ideia do Sistema Antecipe?     

Antes de mais nada é preciso explicar a todos que durante um processo de pesquisa nos baseamos em fatos ou em conhecimentos pré-existentes. 

Importante ressaltar que o Sistema é inovador, até porque se não o fosse ele já estaria implementado no Brasil, porque a base do conhecimento sobre o Sistema temos em livros de 50 anos atrás. 

Esse conceito todo mundo aprendeu no curso de agronomia: existe uma estrutura morfológica na planta chama ponto de crescimento, o qual até o estádio V5 do milho fica abaixo do solo, protegido. 

Por isso, aprendemos que se houver problemas climáticos, como granizo ou geada, até o estádio V5 não comprometeria produtividade de grãos, ou teria um baixo impacto de produtividade, já que o ponto de crescimento está abaixo da superfície do solo.  

Como pesquisadores partimos dessa hipótese, imaginando o que aconteceria se cortássemos ou provocássemos uma desfolha na planta até V5. 

Fizemos ao longo de todos esses anos várias revisões de literatura e o que notamos é que esses trabalhos com desfolha são em estágios muito avançados. 

Então em 2007 o pesquisador Décio Karam começou os trabalhos do Antecipe na Embrapa em escala pequena, tudo de forma manual. 

De 2007 a 2010 esses experimentos foram sendo feitos para testar a hipótese de: o que acontece com a planta de milho quando ocorre a colheita da soja e se colhe junto às folhas do milho?   

Em 3 anos agrícolas foi observado que não houve prejuízo à produtividade dessa planta cortada quando comparada à planta de milho que não foi cortada. 

Dessa maneira, depois de 3 anos de conhecimento em que nós validamos essa hipótese pensamos na segunda etapa: como operacionalizar isso no campo?  

Assim foi feito o desenvolvimento de uma semeadora adubadora. Nossa equipe de técnicos e assistentes fizeram um esforço muito grande na Embrapa Milho e Sorgo para construir uma máquina do zero, uma vez que todas as máquinas ou provocavam danos na soja, ou não são apropriadas a esse tipo de cultivo.  

Foram realizadas, durante 8 anos, a construção e avaliação da máquina e do sistema, sendo que de 2010 até 2019 continuamos esses estudos e fomos ganhando mais conhecimento. 

Testamos diferentes cultivares de soja, diferentes híbridos de milho e fomos aprimorando a máquina ao mesmo tempo em que eram realizados outros estudos (de forma manual) em várias regiões, como Londrina, Rio Verde, Lucas do Rio Verde, Patos de Minas e etc. 

Lançamento do Sistema Antecipe    

Em 2019 fizemos uma parceria público-privada com uma empresa que a Jumil para construir e disponibilizar uma máquina para o Sistema Antecipe.  

Importante ressaltar que, quando formamos uma cooperação técnica, temos um departamento na Embrapa que é o de transferência de tecnologia e lá tem um setor que se chama de Prospecção, ou seja, tudo o que é gerado pela pesquisa temos que qualificar essa tecnologia para ver se ela está pronta para o mercado. 

Dessa forma, foram feitas as avaliações de todos os resultados, todos os avanços e foi feita a patente da semeadora adubadora desenvolvida por nós. 

Além disso, nós fizemos testes em diversos locais, como em áreas de produtores, em áreas maiores e outros, nos quais testamos a máquina nova e o Sistema Antecipe. 

De forma resumida, saímos de áreas muito pequenas e chegamos em áreas maiores e estamos colhendo os frutos do 14° ano agrícola. 

Como funciona na prática o Sistema Antecipe e quais as suas vantagens?  

Uma coisa que tem que ficar muito clara é que a Embrapa não recomenda a substituição total do cultivo do milho safrinha pelo Antecipe. 

Primeiro o produtor precisa entender qual é o rendimento operacional que ele tem na propriedade, ou seja, quanto eu consigo fazer em hectares por dia, tanto para plantar o milho segunda safra, quanto para colher a soja. 

O segundo ponto que o produtor tem que ter em mente é qual é o calendário agrícola para milho safrinha no meu município. 

Isso ele conhece através do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC). O ZARC determina se nessa data eu tenho baixo, médio ou alto risco. 

Por exemplo, em uma determinada região a época ideal para cultivo de milho segunda safra nesse município é de 1 a 10 de Fevereiro, sendo que no dia 11 ao dia 20 é médio risco e depois no final de fevereiro o risco é alto. 

Dessa maneira, o produtor precisa observar o seu rendimento operacional, por exemplo, 100 hectares por dia é meu rendimento de plantio e se eu tenho 1000 hectares então eu vou plantar em 10 dias, sem atrasos se eu conseguir começar a plantar em 01 de Fevereiro. 

No entanto, um produtor que faz 100 hectares por dia em rendimento operacional e tem uma área de 1500 hectares significa que 500 hectares todo ano estaria sendo plantado fora da janela, ou com um alto risco em função do atraso no plantio. 

Então, para esse produtor o Antecipe vai resolver um problema de 500 hectares e é dessa forma que a tecnologia está sendo posicionada. 

Tem sido demonstrado, pelos nossos resultados de pesquisa e por tudo que a gente tem feito, que o Antecipe não se compara ao milho plantado dentro do calendário ideal ou dentro da janela ideal.  

O Antecipe tem que ser comparado àquele milho que seria plantado tardiamente porque ao longo desses 14 anos que estamos trabalhando conseguimos ver, em todos os resultados, que você pode antecipar o milho nas entrelinhas da soja em até 20 dias antes da colheita. 

Isso quer dizer que eu posso antecipar 7, 8, 9, 10, até 20 dias, ou seja, tenho essa janela para poder trabalhar. Tudo isso depende da região, do cultivar de soja e de uma série de fatores. 

O Sistema Antecipe é uma estratégia para reduzir riscos. 

Semeadora adubadora que possibilita fazer o Sistema Antecipe

Quando fizemos a concepção da máquina aqui dentro da Embrapa Milho e Sorgo e quando nós conversamos com a Jumil, o consenso foi de fazer uma máquina que atenda a maioria dos produtores que precisam de uma máquina para realizar o cultivo do milho e que sempre sofrem com atrasos no plantio. 

Então, existem atualmente disponíveis no mercado para todos os produtores 2 modelos de máquinas: a de 4 linhas e a de 6 linhas. 

A de 4 linhas tem um rendimento que pode variar de 10 a 12 hectares por dia e a de 6 linhas de 12 a 16 hectares por dia, a depender do rendimento operacional que o produtor coloca à disposição durante o trabalho. 

Muitos podem achar que isso é pouco, mas a lógica do Antecipe não é considerar a área toda, e sim somente a área que ele vai fazer o Sistema. 

É importante dizer a máquina não é só para semear o Antecipe, ela também pode semear a soja no verão e o milho pós-colheita da soja, sendo uma máquina muito versátil. 

Além disso, hoje essas semeadoras adubadoras da Jumil já vêm com a opção da terceira caixa para aqueles produtores que utilizam as gramíneas forrageiras, tanto para fazer cobertura do solo como para fazer a integração lavoura-pecuária. 

Quer saber mais sobre o Sistema Antecipe? 

A Embrapa disponibiliza todas as informações e resultados, além de outras Publicações que fizemos a respeito, no nosso portal do antecipe que fica é localizado na página da Embrapa: www.embrapa.br/sistema-antecipe

Fiquem à vontade para entrar em contato conosco e se tiverem alguma dúvida estamos sempre à disposição para poder ajudar todos vocês. 

Santa Dica

O Santa Dica, podcast de perguntas e respostas da Santa Helena Sementes, convida especialistas experientes do agro para responder dúvidas abordando os temas mais relevantes e debatidos do setor agropecuário, especialmente relacionados às culturas de milho e sorgo.

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